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Conhecimento que transforma a vida.

O comportamento assertivo
Alberti & Emmons


O comportamento assertivo - Alberti & Emmons

   Adaptação de 'Comportamento Assertivo: um guia de auto-expressão', Alberti & Emmons, BH: Interlivros, 1978

   Se você passa pela vida cheio de inibições, cedendo à vontade alheia, guardando seus desejos dentro de si, ou, ao contrário, destruindo os outros a fim de atingir seus próprios objetivos seu sentimento de autovalor estará baixo. Nosso sistema de vida ocidental muitas vezes cultiva maneiras conflitivas de comportamento em várias áreas de relacionamento interpessoal, havendo uma nítida contradição entre comportamentos "recomendados" e comportamentos "reforçados". As instituições da sociedade têm ensinado com tanto empenho a inibir a expressão dos direitos razoáveis de uma pessoa que esta pode se sentir culpada por haver se afirmado.

   Cada pessoa tem o direito de ser e de expressar a si mesma, e sentir-se bem (sem culpas) por fazer isso, desde que não fira seus semelhantes no processo. O comportamento que torna a pessoa capaz de agir em seus próprios interesses, a se afirmar sem ansiedade indevida, a expressar sentimentos sinceros sem constrangimento, ou a exercitar seus próprios direitos sem negar os alheios, é denominado de comportamento assertivo.

   A pessoa não-assertiva tende a pensar na resposta apropriada depois que a oportunidade passou. A pessoa agressiva pode responder muito vigorosamente, causando uma forte impressão negativa e mais tarde arrepender-se disso. É nosso propósito neste texto, orienta-lo para que obtenha um repertório de comportamento assertivo mais adequado para que escolha respostas apropriadas e satisfatórias em várias situações.

   Pesquisas demonstraram que o aprendizado de respostas assertivas inibirá ou enfraquecerá a ansiedade previamente experimentada em relações interpessoais específicas. Quando a pessoa se torna capaz de afirmar-se e fazer coisas por iniciativa própria, ela reduz apreciavelmente sua ansiedade ou tensão anteriores em situações críticas e aumenta seu senso de valor como pessoa. Este mesmo senso de valor está geralmente ausente na pessoa agressiva, cuja agressividade pode mascarar sentimentos de culpa e de insegurança. Desta forma, podemos caracterizar três tipos de comportamento interpessoal:

   Comportamento Não-Assertivo (O Emissor): Nega a si próprio, fica inibido, fica magoado e ansioso, permite que outros escolham, não atinge seus objetivos.

   Comportamento Não-Assertivo (O Receptor): Sente culpa ou raiva, sente-se ferido, humilhado e na defensiva, não atinge os objetivos desejados.

   Comportamento Agressivo (O Emissor): Valoriza-se às custas dos outros, expressa-se depreciando os outros, escolhe para os outros, pode atingir os objetivos ferindo ou outros.

   Comportamento Agressivo (O Receptor): Repudia-se, deprecia o emissor, atinge os objetivos às custas do emissor.

   Comportamento Assertivo (O Emissor): Valoriza-se, expressa-se, sente-se bem consigo mesmo (*), escolhe por si com seus próprios critérios, atinge os objetivos desejados.

   Comportamento Assertivo (O Receptor): Valoriza-se, expressa-se, pode atingir os objetivos desejados.

      (*) => o aspecto mais importante de todos!

   O comportamento agressivo resulta comumente num "rebaixar" o receptor. Seus direitos foram negados e ele se sente ferido, humilhado e na defensiva. Embora a pessoa agressiva possa atingir seus objetivos, ela pode também gerar ódio e frustração que poderá receber mais tarde como vingança.

   Por outro lado, um comportamento assertivo apropriado na mesma situação aumentaria a auto-apreciação do emissor e uma expressão honesta de seus sentimentos. Geralmente ele atingirá seus objetivos, tendo escolhido por si mesmo como agir. Um sentimento positivo a respeito de si mesmo acompanha uma resposta assertiva.

   Do mesmo modo, quando as consequências destes três comportamentos contrastantes são vistas da perspectiva de uma pessoa "sobre a qual" eles são emitidos (ou seja, o indivíduo ao qual o comportamento é dirigido), surge um padrão paralelo. O comportamento não-assertivo produz freqüentemente sentimentos que vão de simpatia a um franco desprezo pelo emissor. Também a pessoa que recebe a ação (receptor) pode sentir culpa ou raiva ao atingir seus próprios objetivos às custas do emissor. Pelo contrário, uma transação envolvendo asserção aumenta os sentimentos de autovalorização e permite expressão total de si mesmo. Além disso, enquanto o emissor atinge seus objetivos, os objetivos do indivíduo ao qual o comportamento é dirigido também podem ser atingidos.

   Em suma, é claro então que no comportamento não-assertivo o emissor se prejudica pela própria autodesvalorização; e no comportamento agressivo o receptor é prejudicado. No caso da asserção, nenhuma pessoa é prejudicada e, a menos que os objetivos desejados sejam totalmente conflitantes, ambos podem sair-se bem.
 

   EXEMPLOS DE CASOS:

   "Jantando Fora"

O Sr. e a Sra.A estão num restaurante de preços moderados. O Sr.A pediu um bife especial, mas quando foi servido percebeu que estava muito bem passado, ao contrário do que ele havia pedido. Seu comportamento é:

Não-Assertivo:

O Sr.A resmunga para a mulher a respeito do bife "queimado" e diz que não volta mais neste restaurante. Ele não diz nada ao garçom e responde "tudo legal" à sua pergunta "está tudo bem?". A sua noite e seu jantar são altamente insatisfatórios e ele se sente culpado por não ter tomado uma atitude. A auto-estima do Sr.A e a admiração da Sra.A por ele são diminuídas pela experiência.

Agressivo:

O Sr. A chama o garçom à mesa e é injusto e grosseiro com ele por não ter atendido bem. A sua atitude ridiculariza o garçom e constrange a Sra.A. Ele pede e recebe outro bife mais de acordo com o que queria. Ele se sente controlando a situação, mas o embaraço da Sra.A cria atrito entre eles e estraga a noite. O garçom fica humilhado, zangado e sem jeito o resto da noite.

Assertivo:

O Sr.A chama o garçom à sua mesa, lembra-lhe que pediu um bife especial, mostra-lhe o bife bem passado, pede-lhe educada mas firmemente que o troque por um mal passado como ele havia pedido. O garçom pede desculpa pelo erro e rapidamente o atende. O casal aprecia o jantar e o Sr.A se sente satisfeito consigo mesmo. O garçom se sente feliz com o freguês satisfeito e o serviço adequado.

   "Emprestando Alguma Coisa"

Helen é uma universitária atraente e excelente estudante, amada pelos professores e colegas. Ela mora numa república com seis moças, dividindo seu quarto com duas. Todas as moças namoram regularmente. Uma noite, enquanto as colegas de quarto de Helen se preparavam para encontrar os namorados (Helen planeja uma noite tranqüila elaborando um trabalho escolar), Maria diz que vai sair com um cara muito legal e espera dar uma boa impressão. Ela pergunta a Helen se pode usar um colar novo que Helen acabou de ganhar de seu irmão. Helen e seu irmão são muito amigos e o colar significa muito para ela. Sua resposta é:

Não-Assertiva:

Ela "engole em seco" seu medo do colar ser perdido ou danificado, e seu sentimento de que seu significado especial o tornava muito importante para ser emprestado e diz:"Claro".

Ela se desvaloriza, reforça Maria por fazer um pedido excessivo e se preocupa toda a noite (o que traz pouca contribuição para o trabalho escolar).

Agressiva:

Helen mostra indignação pelo pedido da amiga, diz-lhe "absolutamente não" e começa a censurá-la severamente por atrever-se a fazer uma pergunta "tão cretina". Ela humilha Maria e faz um papel ridículo. Mais tarde se sente incomodada e com sentimento de culpa, o que interfere no seu estudo. Maria se sente ferida e estes sentimentos manifestam-se mais tarde, estragando seu encontro, pois não cosegue se divertir, o que intriga e desencoraja o rapaz. Daí em diante o relacionamento de Helen com Maria passa a ser bastante tenso.

Assertiva:

Ela fala do significado do colar e, gentil mas firmamente, diz que aquele pedido não pode ser atendido, pois a jóia é muito pessoal. Mais tarde ela se sente bem por ter sido sincera consigo mesma e Maria, reconhecendo a validade da resposta de Helen, faz grande sucesso com o rapaz, sendo também mais honesta e franca com ele.

   "Fumando Maconha"

Pam é uma aluna do terceiro colegial, muito simpática, que tem se encontrado com um rapaz muito atraente do qual tem gostado muito. Numa noite ele a convida a participar de um bate-papo com outros dois casais, ambos casados.

Quando todos se reuniram na festa, Pam sentiu-se muito bem e gostou muito. Depois de uma hora mais ou menos, um dos homens casados pegou alguns cigarros de maconha e sugeriu que todos fumassem. Todos prontamente aceitaram, exceto Pam, que não queria experimentar maconha. Ela fica em conflito, porque o rapaz que ela admira está fumando maconha e, quando ele lhe oferece o cigarro, ela decide ser:

Não-Assertiva:

Aceita o cigarro, demonstrando já ter fumado maconha antes. Ela observa atentamente os outros para ver como eles fumam. No fundo, ela teme que eles lhe peçam para fumar mais. Os outros estão falando em "ficar muito doidos" e Pam está preocupada com o que o rapaz está pensando dela. Ela negou a si própria, não foi sincera com seu namorado, e sente remorso por ter entrado numa que não queria.

Agressiva:

Pam fica indignada quando lhe oferecem a maconha e explode com o rapaz por tê-la levado a uma festa de tipo tão "baixo". Diz que prefere voltar logo para casa do que ficar com este tipo de gente. Quando as outras pessoas da festa lhe dizem que ela não precisa fumar, se não quiser, ela não se satisfaz e continua indignada. Seu amigo fica humilhado, sem jeito com seus amigos e desapontado com ela. Embora ele continue cordial com Pam quando a leva para casa, ele não mais a convidará para sair.

Assertiva:

Pam não aceita o cigarro, dizendo simplesmente: "Não, obrigada. Não estou com vontade". Ela continua, explicando que nunca fumou antes e que não tem vontade de fazê-lo. Diz que preferiria que os outros não fumassem, mas reconhece o direito que eles têm de fazer suas próprias escolhas.


   "A Gorducha"

O Sr. e Sra.B estão casados há nove anos e recentemente vêm tendo problemas conjugais, porque ele insiste em que ela está muito gorda e precisa emagrecer. Ele volta ao assunto constantemente, dizendo-lhe que ela não é mais a mesma mulher com quem se casou (que tinha 50 Kg.), que este excesso de peso lhe faz mal a saúde, que ela é um mau exemplo para as crianças, etc.

Além disso, ele a goza, dizendo que ela é bola, olha apaixonadamente para as moças magras, comentando sobre o quanto são atraentes, e faz referências à sua má aparência na frente dos amigos. Nos últimos três meses o Sr.B tem se comportado desta maneira e a Sra.B já está terrivelmente contrariada. Ela tem tentado perder peso nestes três meses, mas sem muito sucesso. Seguindo a onda de críticas do Sr.B, a Sra.B é:

Não-Assertiva:

Ela pede descupas por seu excesso de peso, às vezes se descupa sem convicção, outras simplesmente aceita calada as críticas do marido. Interiormente ela sente raiva do marido pela sua chateação e culpa-se pelo excesso de peso. Sua ansiedade torna mais difícil para ela perder peso, e a briga continua.

Agressiva:

A Sra.B faz frequentes comentários, dizendo que seu marido também não vale grande coisa. Ela menciona o fato de que à noite ele cai no sono no sofá, é um péssimo parceiro sexual e não lhe dá atenção suficiente.

Estas coisas não têm nada a ver com o problema, mas a Sra.B continua. Ela queixa-se de que ele a humilha na frente das crianças e amigos mais chegados e age como um "velho sem vergonha" pelo modo que olha as moças atraentes. Na sua raiva ela só consegue ferir o Sr.B e construir uma barreira entre eles, defendendo-se com o contra-ataque.

Assertiva:

A Sra.B procura o marido numa hora em que ele está sozinho e não será interrompido; então lhe diz que sente que ele está certo com relação à sua necessidade de perder peso, mas que não gosta da sua maneira de colocar o problema. Diz que está fazendo o melhor que pode e que está sendo duro perder peso e manter o regime. Ele compreende a ineficácia de ficar repisando o assunto e decidem trabalhar juntos num plano no qual ele vai reforçá-la sistematicamente por seus esforços em perder peso.


   "O Menino do Vizinho"

O Sr. e Sra.E têm um filho de dois anos e uma filha de dois meses. Recentemente, por diversas noites, o filho do vizinho de 17 anos, tem ficado em seu carro, ao lado da casa, ouvindo som altíssimo. Ele começa exatamente na hora em que as duas criaças do casal E se recolhem para dormir, exatamente ao lado da casa onde o rapaz ouve as músicas. A música alta acorda as crianças toda noite e é impossível para os pais fazê-las dormir enquanto a música continua. O casal E está incomodado e decide ser:

Não-Assertivo:

O Sr. e Sra.E levam as crianças para seu quarto, do outro lado da casa, esperam até que a música cesse, por volta de 1 hora da madrugada, então transferem as crianças para o quarto delas. E vão dormir muito depois do horário de costume. Eles continuam a maldizer o rapaz em silêncio, e breve se desligam dos vizinhos.

Agressivo:

O casal E. chama a polícia e reclama que "um desses jovens selvagens" da casa ao lado está incomodando. Exigem que a polícia "faça seu papel" e pare com o barulho de uma vez. A polícia fala com o rapaz e com seus pais, que ficam muito chateados e com raiva pelo embaraço da visita da polícia. Eles reprovam o fato de o casal E ter chamado a polícia antes de conversar com eles e resolvem evitar qualquer relacionamento com eles.

Assertivo:

O casal vai à casa do rapaz e diz a ele que sua música está mantendo as crianças acordadas à noite. Procura, junto com o rapaz, encontrar uma solução para o caso, que não pertube o sono das crianças. O rapaz relutantemente concorda em abaixar o volume à noite, mas aprecia a atitude cooperativa do casal E. Todaos se sentem bem com os resultados.

"Já Passou dos Limites"

Marcos, de 28 anos, chega em casa e encontra um bilhete da mulher, dizendo que iniciou um processo de divórcio. Ele fica muito perturbado, principalmente porque ele não lhe disse cara a cara. Enquanto procura se controlar e compreender por que ela agiu daquela maneira, ele relê seu bilhete:

"Marcos, estamos casados há 3 anos e nunca, em nenhum momento, você me permitiu ser eu mesma e agir como um ser humano. Você sempre me disse o que fazer, sempre tomou todas as decisões. Você nunca aprenderá a mostrar carinho e afeição por ninguém. Tenho medo de ter filhos com receio de que eles possam ser tratados como eu sou. Aprendi a perder todo o respeito e admiração por você. Ontem à noite, quando você me bateu, foi o fim. Vou me divorciar de você."  Marcos decide reagir a este bilhete sendo:

Não-Assertivo:

Sente-se completamente só, com remorso e com pena de si mesmo. Começa a bater e finalmente toma coragem suficiente para chamar sua mulher na casa dos pais dela. No telefone, implora perdão, pede a ela que volte e promete mudar.

Agressivo:

Marcos fica furioso com o comportamento de sua mulher e sai para procurá-la. Ele a agarra violentamente pelo braço e exige que ela volte para o lar ao qual ela pertence. Diz-lhe que ela é sua mulher e tem que fazer o que ele diz. Ela briga e resiste; seus pais intervêm e chamam a polícia.

Assertivo:

Marcos liga para a mulher e diz-lhe que percebe que foi tudo basicamente por culpa dele, mas que gostaria de mudar. Fala de sua boa vontade de marcar uma consulta com um psicólogo e espera que ela participe com ele.


FUNDAMENTOS PARA UM COMPORTAMENTO ASSERTIVO

   "Tá bom", você diz, "pode ser que eu não seja tão assertivo quanto gostaria de ser. Você não pode ensinar um cavalo velho a marchar. Esta é minha maneira de ser. Não posso mudá-la".

   Não concordamos. Milhares de pessoas têm descoberto que se tornar mais assertivo é um processo de aprendizagem e que é possível para elas mudarem. Muitas vezes um "cavalo velho" precisa de mais tempo para aprender, mas a recompensa é grande e o processo não é, de fato, tão difícil. Em primeiro lugar, como posso saber que realmente quero mudar? Existe algum perigo em potencial na asserção? E as pessoas significativas da minha vida; elas não farão objeção se eu, de repente, me tornar mais expressivo?. Este capítulo pretende fornecer uma fundamentação para o desenvolvimento autodirigido do comportamento assertivo.

    PORQUE DEVO MUDAR?

   "Sim, sou não-assertivo, e daí?" Bem, pense por exemplo, até que ponto você conhece as consequências deste comportamento? Já observou como você se dá com os outros? Frequentemente as pessoas tiram vantagem de você? Você evita certas situações sociais porque se sente muito ansioso? Já perdeu um emprego ou encontro por não ter conseguido conversar com alguém? Nunca isto lhe custou dinheiro, porque você "não podia" devolver à loja uma compra estragada? Já comprou alguma coisa que não queria, porque "não podia dizer não"? Já foi criticado por seu cônjuge ou por outras pessoas por indecisão?

   Algumas destas consequências da não-assertividade forçosamente produzirão angústia, desapontamento e talvez auto-recriminação. Se você experimentou este tipo de sofrimento já tem motivação para mudar. Você está pronto para ir em frente e estamos certos de que os procedimentos apresentados aqui lhe serão de grande valor. Aprender a "lutar por seus direitos" não é uma panacéia, mas um grande passo para se libertar do peso de um comportamento de autonegação.

   Muitas vezes é mais difícil a pessoa agressiva perceber que necessita de ajuda, pois está acostumada a controlar o ambiente para satisfazer suas necessidades. Se seu estilo é agressivo, é muito provável que suas relações atuais se tornem piores, a não ser que procure ajuda. Um relacionamento que não é saudável tende a se deteriorar e pode fazê-lo se sentir pior do que agora. Temos percebido que, em geral, a pessoa que se comporta agressivamente pode procurar mudar por sugestão de outros. Muitas vezes ela é movida pela sua própria frustração com a inadequação de seu comportamento.

   Você sempre assume a liderança em relações sociais? É você, sempre, que tem que telefonar primeiro para seus amigos? Raras vezes as pessoas o introduzem espontaneamente numa discussão? Você é, invariavelmente, o "vencedor" nas discussões? Frequentemente você ralha com empregados por um serviço inadequado? Você dita as regras para seus subordinados no trabalho? Para seus familiares em casa? Você percebe as pessoas tentando evitá-lo? A alienação das pessoas que lhe são próximas é o preço que você paga para que as coisas caminhem do jeito que você quer? A assertividade pode atingir os mesmos resultados com muito menos feridos no relacionamento.

   Um exemplo que demonstra de maneira interessante tanto repostas não-assertivas quanto agressivas à ansiedade é o caso de Karen, que estava tendo ataques de raiva dirigidos contra o homem com quem ela planejava se casar. Sua ansiedade era causada pela falta de consideração dele; chegava muito tarde aos encontros, só lhe avisava dos compromissos a que ele queria ir com ela na última hora, e outras faltas de cortesia. Karen não era assertiva com seus direitos de exigir a cortesia devida, até que sua raiva cresceu a um nível irracional e então ela explodiu com ele. Assim que ela tomou consciência de que a situação pioraria depois do casamento, e do que significaria estar casada vivendo este tipo de relacionamento, e da possibilidade de seu casamento terminar em divórcio, Karen concordou com um treinamento assertivo. Infelizmente muitas mulheres atravessam todo o seu casamento "sob o domínio" do marido, porque sentem que é o "seu lugar" no casamento.

    OS SEUS DIREITOS

   Ao sugerirmos asserção para as pessoas, enfatizamos o fato de que ninguém tem o direito de aproveitar de outro simplesmente por uma questão de se tratar de seres humanos. Por exemplo, um empregador não pode desrespeitar os direitos de cortesia e respeito que o empregado merece como ser humano. Um médico não tem o direito de ser descortês ou injusto ao lidar com um paciente ou enfermeira. Um advogado não deve sentir que tem o direito de "falar de cima" com o operário. Cada pessoa tem o direito inalienável de expressar-se, mesmo que "só tenha o primário" ou "esteja no caminho errado" ou seja "apenas uma auxiliar de escritório". Todas as pessoas são, de fato, criadas iguais num plano humano e cada uma merece o privilégio de expressar seus direitos inatos. Há muito a ganhar da vida sendo-se livre e capaz de lutar por si mesmo e garantir os mesmos direitos para os outros. Sendo assertiva, a pessoa está aprendendo a dar e receber em igualdade com os outros e estar mais a serviço de si e dos outros.

   Outra faceta que motiva muitos a se tornarem assertivos é a maneira como certos problemas somáticos se reduzem à medida que a asserção progride. Queixas como dores de cabeça, asma, problemas gástricos, fadiga geral, freqüentemente desaparecem. A redução na ansiedade e culpa que é experimentada por pessoas não-assertivas e agressivas, quando aprendem a ser assertivas, resulta freqüentemente na eliminação destes sintomas físicos.

   Esta é a hora para compreender que você não está sozinho, que outros já enfrentaram desafios e situações semelhantes e mudaram para melhor.

   A esperança e coragem necessárias para iniciar o treinamento pode ser conseguida estudando as descrições dos casos para aprender como outros ultrapassaram dificuldades similares com êxito. Você poderá se identificar com casos que citamos anteriormente e que continuaremos a descrever.

   Uma implicação da asserção está sempre presente em indivíduos não-assertivos: comportamento auto-negativo sutilmente reforça outro comportamento mau ou indesejável. Dois exemplos deixam isso claro:

   Diana, uma mulher casada de 35 anos, tinha um marido que desejava ter relações sexuais toda noite. Às vezes ela estava francamente cansada das atividades do dia como dona de casa e mãe de três filhos e não queria ter relações. Contudo, quando Diana recusava, seu marido reclamava e ficava magoado, insistindo até que ela "sentia pena dele" e cedia. Esses fatos se repetiam com tanta frequência em seu relacionamento que se tornaram habituais, e quanto mais Diana negava, mais ele insistia até que ela cedesse. Naturalmente, fazendo isso, ela reforçava o comportamento dele, sem contar o valor do reforço da gratificação sexual dele.

   Outro exemplo é de uma estudante universitária, Wendy, de 20 anos, que embora fosse independente financeiramente, era do tipo "hippie" e vivia fora do campus em moradia barata com um rapaz e uma moça. Vivendo juntos eles dividiam as despesas e economizavam muito dinheiro. Wendy e seus amigos tinham a reputação de ser "rebeldes". Rumores sobre o comportamento deles e suas condições de vida chegaram a seus pais, que a submeteram a longa preleção sobre a nova geração, respeito à autoridade, a saúde de sua mãe, ser vulgar, e assim por diante. Isso aconteceu várias vezes e a cada vez Wendy perturbava-se eventualmente e perguntava o que podia fazer para conciliar as coisas, e então cedia a algumas exigências deles. Assim, novamente vemos como Wendy reforçava o comportamento indesejável de seus pais, perturbando-se ou cedendo, quer dizer, ela lhes ensinava como fazer preleções a ela.

   Embora possa ser mais difícil para o indivíduo geralmente agressivo admitir as consequências de seus atos, ele geralmente reconhece a reação dos outros quando os direitos deles são desrespeitados. Ele reage internamente com reconhecimento e pesar quando confrontado com a alienação que seu comportamento provoca. Se você procura ajuda, você consegue admitir para si mesmo sua preocupação e sentimento de culpa pelo mal que causou aos outros e pode reconhecer que você simplesmente não sabe como atingir seus objetivos de maneira não-agressiva. Neste ponto você é um excelente candidato para o treinamento assertivo.

   Um indivíduo desse tipo foi colocado num grupo de terapia. Depois de um tempo considerável ouvindo Jerry, que monopolizava totalmente o grupo, vários membros o questionaram duramente. Embora fosse um homem forte e turbulento, Jerry logo reagiu a essa resposta, atenciosa porém questionadora que lhe foi transmitida pelo grupo, com uma crise de choro. Ele contou que seu jeito de valentão era apenas um disfarce que o protegia da intimidade das pessoas. Esta intimidade lhe era ameaçadora. Ele se sentia um desajustado e usava a máscara do "machão" para manter os outros à distância. O grupo respondeu à necessidade que Jerry tinha de ser estimado e o ajudou a elaborar respostas adequadamente assertivas que substituíssem seu comportamento provocativo e belicoso.

   UMA ADVERTÊNCIA ANTES QUE VOCÊ COMECE

   Desde que você está bem motivado e pronto a começar a ser assertivo, você deve primeiramente assegurar-se de que compreende perfeitamente os princípios básicos da asserção. Entender a diferença entre comportamento assertivo e agressivo é importante para seu sucesso. Em segundo lugar, você deve decidir se está pronto para começar a treinar o comportamento auto-assertivo sozinho. Geralmente as pessoas situacionalmente não-assertivas ou situacionalmente agressiva são capazes de começar a asserção com êxito. Para os indivíduos geralmente não-assertivos e geralmente agressivos, contudo, maior prudência é necessária; e recomendamos uma prática e trabalho lento e cuidadoso com outra pessoa, de preferência um terapeuta treinado, como facilitador.

  Em terceiro lugar, suas tentativas devem ser escolhidas por ser potencialmente promissoras, para lhe dar o devido reforço. Este ponto, naturalmente, é importante para todos os assertivos iniciantes, mas especialmente para os geralmente não-assertivos e os geralmente agressivos. Quanto maior êxito você obtiver no início, maior a probabilidade de que esse êxito continue durante o treinamento.

   Inicialmente, comece com pequenas asserções que tenham possibilidade de ser compensadoras, e então prossiga com algumas mais difíceis. Você pode desejar explorar cada passo com um amigo ou facilitador treinado até que você seja capaz de controlar totalmente a maioria das situações. Você deve proceder com cuidado quando tomar sozinho a iniciativa de tentar uma asserção difícil sem preparação especial. E tome muito cuidado para não tentar uma asserção que possa lhe acarretar um fracasso total. Isso poderá inibir suas tentativas futuras.

   Se você sofrer um revés, o que pode muito bem ocorrer, pare a fim de analisar cuidadosamente a situação e tornar a ganhar autoconfiança, obtendo ajuda de um facilitador, se necessário. Especialmente nos primeiros estágios da asserção, é comum cometer erros por não usar adequadamente a técnica ou por excesso de entusiasmo, chegando ao ponto da agressão. Qualquer desvio desses pode causar respostas negativas, particularmente se a outra pessoa, "o receptor", tornar-se hostil e muito agressivo. Não deixe esta ocorrência desanima-lo. Considere novamente seu objetivo e lembre-se que, embora a asserção bem sucedida exija treino, suas compensações são grandes.

   Em quarto lugar, pondere seu relacionamento com as pessoas próximas de você. De modo típico, padrões de comportamento não-assertivo ou agressivo têm sido exercidos por um indivíduo por um longo tempo. O indivíduo não-assertivo terá estabelecido padrões de interação com aqueles que estão significativamente próximos a ele, como família, cônjuge, amigos. Assim também acontece com o indivíduo agressivo. Uma mudança nessas relações já estabelecidas pode causar bastante transtorno aos outros envolvidos. De um modo geral, os pais são freqüentemente alvo de comportamento assertivo especialmente no fim da adolescência ou aos vinte e poucos anos, quando os filhos lutam pela independência.

   Naturalmente, algumas pessoas cedem aos desejos e ordens dos pais a vida toda (porque é "certo" respeitar os mais velhos, especialmente os pais que se sacrificaram tanto por você, etc.) Muitos pais acreditam piamente nisso e ficam muito desconcertados quando seu filho "se rebela" assertivamente. Por outro lado, pais que pautaram sua vida em resposta a um filho agressivo podem também ficar confusos quando perceberem que o comportamento dele está se tornando assertivo, embora há muito desejassem esta mudança. Consequentemente, pode ser útil pedir a um facilitador que intervenha e converse com os pais para prepará-los para estas modificações. Esta intervenção pode freqüentemente evitar que essas reações se exasperem e provoquem relações profundamente tensas entre pais e filhos.

   Relacionamentos conjugais que têm se mantido há anos baseados nas ações não-assertivas ou agressivas de um cônjuge são igualmente propensos a ficar "de pernas para o ar" quando a asserção começa. Se o cônjuge não está preparado e disposto a mudar um pouco também, há uma forte possibilidade de rompimento entre o casal. A cooperação do cônjuge conseguida através de algumas reuniões com o facilitador pode ajudar imensamente a mudança de comportamento. Espera-se que um treinamento assertivo para um esposo fortaleça as relações conjugais. Contudo há um perigo potencial de comportamento de um dos parceiros e deve-se estar atento para agir com plena consciência dessas eventuais consequências. Uma conversa franca com os pais ou cônjuge é firmemente recomendada.

   OS COMPONENTES DO COMPORTAMENTO ASSERTIVO

   De maneira crescente, observações sistemáticas de comportamento assertivo têm levado muitos cientistas comportamentais a concluir que há muitos elementos que constituem uma ação assertiva. Em nosso trabalho de ajudar os outros a desenvolver maior asserção, demos atenção particular a estes componentes:

Olhar nos olhos - Olhar diretamente para a outra pessoa com a qual você está falando é um modo eficaz de declarar que você é sincero sobre o que está dizendo e que suas palavras são dirigidas a ela.

Postura do corpo - O "peso" de suas mensagens será aumentada se você olhar de frente para a pessoa, ficar de pé ou assentado apropriadamente perto dela, curvar-se para ela, manter a cabeça ereta.

Gestos - Uma mensagem acentuada por gestos apropriados adquire uma ênfase especial (gestos muito exuberantes podem parecer fora de propósito).

Expressão facial - Já viu alguém tentando expressar raiva enquanto sorri ou dá risada? Simplesmente não convence. Asserções eficazes requerem uma expressão que combine com a mensagem.

Tom de voz, inflexão e volume - Um sussurro monótono dificilmente convencerá outra pessoa de sua seriedade, enquanto um ímpeto gritado bloqueará seu campo de comunicação por suscitar resistência na outra pessoa. Um relato num nível correto, num tom coloquial bem modulado, será convincente sem intimidar.

Escolher a hora apropriada - A expressão espontânea será normalmente seu objetivo, pois a hesitação pode diminuir o efeito de uma asserção. Mas tem que haver um critério contudo, para selecionar a ocasião certa. Por exemplo, se você quer falar ao seu chefe, isso deverá ser feito na privacidade do escritório dele e não na frente do pessoal do escritório, onde ele pode responder defensivamente.

Conteúdo - Deixamos esta dimensão óbvia da asserção para o final, a fim de enfatizar que, embora o que você diz seja logicamente importante, é freqüentemente menos importante do que muitos de nós pensamos ser. Nós encorajamos uma honestidade fundamental em intercomunicação pessoal e espontaneidade de expressão. No nosso ponto de vista, isto significa dizer claramente: "Estou danada da vida com o que acabou de fazer"; ao invés de: "Você é um filho da p...".

   As pessoas que têm "engasgado" anos a fio "por não saber o que dizer" acharam que a prática de dizer algo, para expressar seus sentimentos do momento, é um passo útil para atingir maior asserção espontaneamente.

   Mais um comentário sobre conteúdo: nós lhe encorajamos a expressar seus sentimentos - e a aceitar responsabilidade por eles. Note a diferença entre o exemplo acima: "Estou furioso" e "Você é um filho da P..." Não é necessário humilhar outra pessoa (agressivo) para expressar seu sentimento (assertivo).

   Sua imaginação pode levá-lo a uma vasta variedade de situações que demonstram a importância da maneira pela qual você expressa sua asserção. Basta dizer que o tempo que você passa pensando sobre "as palavras certas" será melhor usado se você passá-lo fazendo asserções!. O objetivo final é expressar a si mesmo, sincera e espontaneamente, da maneira "certa" para você.

   Pronto, agora? Se chegou até aqui, você está provavelmente pronto para começar a dar os primeiros passos para aumentar sua própria asserção. Nós sabemos que você conseguirá êxito. A recompensa ultrapassa em muito os esforços exigidos. Boa viagem!


   O DESENVOLVIMENTO DO COMPORTAMENTO ASSERTIVO - MUDANDO COMPORTAMENTO E ATITUDES

   Infelizmente há um erro no consenso popular sobre o comportamento das pessoas. Uma opinião generalizada que os psicólogos julgam errônea é a idéia de que alguém deve mudar sua atitude antes de poder mudar o modo como se comporta. Em nossa experiência com centenas de clientes em treinamento clínico assertivo, e no feedback de alguns dos milhares de leitores deste livro, assim como de inúmeros relatórios de nossos colegas em prática psicológica, ficou claro que o comportamento pode mudar primeiro e é mais fácil e mais eficaz agir assim, na maioria dos casos.

   Quando você começar o processo de se tornar mais assertivo, nós não pediremos que você acorde uma manhã e diga: "Hoje eu sou uma pessoa nova e assertiva!" Ao invés disso, você achará aqui um guia para uma mudança de comportamento gradual e sistemática. A chave para o desenvolvimento da asserção é a prática de novos padrões de comportamento. Este capítulo destina-se a guiá-lo através dos passos necessários em tal prática e demonstrar-lhe como você pode usar o novo comportamento assertivo no relacionamento com os outros.

   Nós observamos um círculo de comportamento não-assertivo ou agressivo que tende a perpetrar-se, até que uma intervenção decisiva ocorra. A pessoa que tem agido não-assertivamente ou agressivamente em suas relações por um longo período, geralmente tem um baixo conceito de si mesma. Seu comportamento com os outros - abusivo ou de auto-negação - é respondido com desprezo, desdém ou abandono. Ela observa as respostas e diz para si mesma: "Veja, eu sabia que não valia nada". Vendo o baixo conceito que faz de si mesma confirmado, ela persiste em seu padrão inadequado de comportamento. Assim o círculo se fecha: comportamento inadequado, feedback negativo, atitude de auto-depreciação, comportamento inadequado.

   O comportamento mais prontamente observável deste padrão é o próprio comportamento. Nós podemos facilmente perceber o comportamento claro em oposição a atitudes e sentimentos que podem estar ocultos atrás da fachada que nos é mostrada. Além disso, o comportamento é o comportamento mais passível de mudança. Nossos esforços de facilitar melhoraram as relações interpessoais. Além disso, uma maior valorização de si mesmo como pessoa surgirá com a mudança de seus padrões de comportamento.

   Nós achamos que o círculo pode ser reverso, iniciando-se uma sequência positiva: o comportamento mais adequadamente assertivo (auto-valorização) ganha mais respostas positivas dos outros; este feedback positivo leva a uma avaliação positiva de si mesmo ("Puxa, as pessoas estão me tratando como alguém de valor!"), e os sentimentos melhorados sobre si mesmo resultam em asserções futuras.

   Harold estava convencido há anos de sua total falta de valor. Ele era totalmente dependente de uma esposa no que se refere a apoio emocional, e, embora tivesse muito boa aparência e habilidade de expressar-se bem, não tinha amigos. Imaginem seu completo desespero quando sua esposa o abandonou! Felizmente, Harold já estava na terapia nessa época e desejava relacionar-se com outras pessoas. Quando suas primeiras tentativas de asserção com jovens atraentes tiveram mais êxito do que ele jamais ousou esperar, o valor reforçador de tais respostas às suas asserções foi altamente positiva. O alto-conceito de Harold mudou rapidamente, e ele tornou-se muito mais assertivo em várias situações.

   Nem todos certamente, experimentarão tão rápidos progressos em sua asserção, e nem todas as asserções terão pleno êxito. O sucesso quase sempre requer muita paciência e depende de um processo gradual de lidar com situações cada vez mais difíceis. No entanto, este exemplo enfatiza uma regra geral que encontramos ao facilitar comportamento assertivo: a asserção tende a ser compensadora por si mesma. É muito agradável sentir que os outros começam a responder mais atenciosamente, atingir seu ideal de relacionamento, fazer com que as situações se resolvam do jeito que você quer. E você pode fazer estas coisas acontecerem!

   Comece com asserções simples, nas quais você esteja certo de ser bem sucedido. Assim ganhará mais confiança e treino para lidar com outras mais complexas. É geralmente muito útil e reconfortante contar com ajuda e orientação de outra pessoa, talvez um amigo, professor ou terapeuta profissional.

   Tenha sempre em mente que a mudança de comportamento leva a uma série de mudanças de atitude em você mesmo e de outras pessoas e situações em relação a você. A parte final desse capítulo apresenta os passos necessários para levar a esta mudança de comportamento. Leia todo o material aqui exposto cuidadosamente antes de começar. Então volte a esse ponto e comece a seguir os passos em sua própria vida. Você gostará de sua nova maneira de ser.


   O PROCESSO PASSO A PASSO

1)Observe seu próprio comportamento. Você tem sido adequadamente assertivo? Você está satisfeito com sua atuação positiva em relações interpessoais? Avalie como você se sente com relação a si mesmo e seu comportamento.

2)Observe atenciosamente sua asserção. Faça anotações ou mesmo um diário durante uma semana. Registre diariamente situações nas quais você se encontrou respondendo assertivamente, outras nas quais você "explodiu" e aquelas que evitou completamente para não ter que enfrentar a necessidade de agir assertivamente. Seja honesto consigo mesmo, e também persistente!

3)Concentre-se numa situação determinada. Feche os olhos por alguns momentos e imagine como lidar com um incidente específico (ter recebido o troco errado no supermercado, ou ter de ficar um tempão ouvindo um amigo falar ao telefone numa hora em que você tinha tanta coisa para fazer, ou deixar que seu patrão o humilhe por causa de um pequeno erro). Imagine claramente os detalhes acontecidos, incluindo o que sentiu na hora e posteriormente.

4)Reveja suas respostas. Escreva seu comportamento no 3o. passo em termos dos componentes da asserção anteriormente relacionados (modo de olhar, posição do corpo, gestos, expressão facial, voz, conteúdo da mensagem). Observe cuidadosamente os componentes de seu comportamento no incidente imaginado. Observe suas forças. Tome consciência daqueles componentes que representam comportamento não-assertivo ou agressivo.

5)Observe o modelo eficaz. Neste ponto seria muito útil observar alguém que sabe lidar satisfatoriamente com a mesma situação. Observe os componentes da asserção, especialmente o estilo - as palavras são menos importantes. Se o modelo é um amigo, discuta com ele a maneira de ele agir e suas consequências.

6)Considere respostas alternativas. De quais outros modos o incidente pode ser tratado? Você poderia lidar com ele de uma maneira mais vantajosa? Menos agressivamente? Volte ao quadro inicial e diferencie respostas agressiva, não-assertiva e assertiva.

7)Imagine-se lidando com a situação. Feche os olhos e visualize-se lidando eficazmente com a situação. Você pode agir igual ao "modelo" do 5o passo ou de um modo muito diferente. Seja assertivo, mas tão espontâneo quanto possível. Repita o passo tantas vezes quantas forem necessárias até que possa imaginar um estilo cômodo para si mesmo e que resolva de modo favorável a situação.

8)Ponha em prática. Tendo examinado seu próprio comportamento, considerado alternativas e observado um modelo de ação mais adequado, você está preparado para começar a pôr em prática novos modos de tratar situações problemáticas. Uma repetição dos passos 5,6 e 7 pode ser feita até que você se sinta pronto a começar. É importante escolher uma alternativa que seja um modo mais eficaz de agir diante de uma situação difícil. Você pode desejar seguir seu modelo e agir como ele (5o passo). Tal escolha é correta, mas deve refletir a consciência de que você é um indivíduo único, e a maneira de ele agir pode não servir no seu caso. Depois de escolher um modo alternativo de comportamento mais eficaz, você deve então representar a situação com um amigo, professor ou terapeuta, tentando agir de acordo com a nova resposta que escolheu. Como nos passos 2,3 e 4, faça uma observação cuidadosa de seu comportamento, usando recursos para registro mecânico quando isso for possível.

9)Obtenha feedback. Este passo essencialmente repete o 4, dando ênfase aos aspectos positivos de seu comportamento. Observe particularmente a força de sua atuação e trabalhe positivamente para desenvolver áreas mais deficientes.

10)Formando o comportamento. Os passos 7,8 e 9 devem ser repetidos tão freqüentemente quanto necessário para "formar" seu comportamento - por este processo de aproximações sucessivas de seu objetivo - até o ponto em que você se sinta à vontade para lidar de maneira positiva com situações previamente ameaçadoras.

11)O verdadeiro teste. Você está agora pronto a testar seu novo padrão de respostas na situação real. Até este ponto sua preparação passou-se em um ambiente relativamente seguro. Contudo, treino cuidadoso e prática constante o prepararam para reagir quase "automaticamente" à situação. Você deve portanto ser encorajado a fazer uma tentativa "ao vivo". Se você não está disposto a isso, mais ensaios serão necessários (pessoas que são cronicamente ansiosas e inseguras ou que duvidam seriamente de seu próprio valor podem precisar de terapia profissional. Recomendamos enfaticamente que você procure logo assistência profissional, se for o caso.). Lembre-se que pôr em prática sincera e espontaneamente o que aprendeu aqui é o passo mais importante de todos.

12)Práticas mais avançadas. Insistimos que você repita os procedimentos que forem necessários para atingir o padrão de comportamento desejado. Você pode desejar seguir um programa desse tipo que se relacione a outras situações específicas nas quais você quer desenvolver um repertório de respostas mais adequadas.

13)Reforço social. Como passo final para estabelecer um padrão de comportamento independente, é muito importante que haja um perfeito entendimento da necessidade de um auto-reforço constante. A fim de manter seu comportamento assertivo recentemente desenvolvido, você deve alcançar um sistema de reforço em seu próprio meio social. Por exemplo, agora você conhece o sentimento agradável que acompanha uma asserção bem sucedida e você pode ficar confiante na continuação dessa boa resposta. A admiração que você receberá dos outros será outra resposta positiva constante que você vai obter.

Concluindo, embora enfatizemos a importância deste processo sistemático de aprendizagem, deve ficar claro que o que recomendamos não é um caminho obrigatório e rígido que não leva em consideração as necessidades e objetivos de cada indivíduo. Insistimos que você crie um ambiente de aprendizagem que o ajudará a desenvolver sua asserção. Nenhum sistema é "certo" para todos. Nós o incentivamos a ser sistemático, mas a seguir um programa que satisfaça suas próprias necessidades individuais. Não há, naturalmente, nenhum substituto para a prática ativa do comportamento assertivo em sua própria vida, quando você optar por isto como meio de desenvolver uma asserção maior e gozar suas grandes recompensas.

 

UM "EMPURRÃOZINHO"

Agora que você está envolvido no processo de desenvolver um comportamento assertivo, não se permita ficar passivo. Se você ficou interessado suficientemente para chegar até este ponto do texto, ou você está pensando seriamente em melhorar sua asserção ou imaginando como pode ajudar outros a serem mais assertivos. Em qualquer caso, faça alguma coisa! Você não pode mudar somente lendo esse texto. Se você não começar a mudar de atitude no seu cotidiano, nós servimos apenas como um passatempo. Se, por outro lado, você partir agora e lidar como uma situação interpessoal defendendo seus próprios interesses, estamos satisfeitos de ter participado de seu crescimento. Tente!

 

ALÉM DA ASSERÇÃO

O tema desenvolvido nesse texto versa sobre o valor do comportamento assertivo para o indivíduo que procura dar um sentido próprio à sua vida, e particularmente às suas relações interpessoais. O leitor sensível terá reconhecido algumas das falhas e desvios inerentes à sua própria asserção pessoal. A sensibilidade é necessária a uma análise dessas limitações e consequências negativas da auto-asserção.

Embora o comportamento assertivo por si mesmo seja a recompensa para a maioria, as consequências da situação podem diminuir seu valor. Considere por exemplo, o menino pequeno que assertivamente recusa o pedido de outro grandão para andar em sua nova bicicleta, e como resultado ganha um olho roxo. Sua asserção foi perfeitamente legítima, mas a outra pessoa não quis aceitar a negação da vontade dela. Portanto, sem sugerir que a asserção seja evitada quando parecer arriscada, nós realmente incentivamos os indivíduos a considerar as consequências prováveis de seus atos assertivos. Sob outras circunstâncias, o valor pessoal da asserção será contrabalançado pelo valor de evitar a resposta provável àquela asserção.

Pode ser útil rever um número de situações possíveis nas quais o valor potencial da asserção é pesado em relação às consequências prováveis. É nossa convicção que cada pessoa deve ser capaz de escolher por si mesma como agir. Se um indivíduo pode agir assertivamente sob determinadas condições, mas escolhe não agir, nosso objetivo é alcançado. Se ele é incapaz de agir assertivamente (quer dizer, não consegue escolher por si próprio como se comportar, mas é intimidado em sua assertividade ou compelido a ser agressivo), sua vida será governada por outros e sua saúde mental sofrerá.

 REAÇÕES POTENCIAIS ADVERSAS

Em nossa experiência como facilitadores da asserção, descobrimos que resultados negativos ocorrem em um número mínimo de casos. Certos indivíduos, porém, reagem de modo desagradável quando enfrentam a asserção de outrem. Portanto, mesmo quando lida adequadamente com a asserção não deixando que ela seja agressiva ou não assertiva em nenhum grau, alguém pode às vezes ainda ver-se às voltas com situações incômodas, tais como:

1)Revides - Depois de você expressar-se assertivamente, a outra pessoa envolvida pode ficar zangada mas não declarará isto abertamente. Por exemplo, se outros "furam fila" e você exige seu lugar assertivamente, a outra pessoa pode resmungar quando tiver de passar para o fim da linha. Você pode ouvir coisas como: "Quem ele pensa que é?", "Que vantagem!", "É o bom!", e assim por diante. Em nosso modo de pensar, a melhor solução é simplesmente ignorar esse comportamento infantil. Se você replicar de algum modo, é provável que a situação se complique, pois sua resposta reforçará o fato de que as palavras dela o atingiram.

2)Agressões - Neste caso a outra pessoa torna-se abertamente hostil a você. Isso pode significar gritos, brados ou reações físicas como tapas, murros, empurrões. Novamente, o melhor meio de lidar com isso é evitar deixar essa condição dominá-lo. Você pode optar por dizer o quanto lamenta tê-la deixado nervosa com seus atos, mas deve continuar firme em sua asserção. Essa firmeza será especialmente essencial se seu contato com ela continuar no futuro. Se você voltar atrás em sua asserção, simplesmente reforçará a reação negativa da parte dela. Como resultado, da próxima vez que você agir assertivamente com ela, a possibilidade de receber reações agressivas será alta.

3)Crises de Temperamento - Em certas situações você pode ser assertivo com alguém que esteja acostumado a dominar. Ele pode então reagir à sua asserção ficando magoado, queixando-se da saúde, dizendo que você não gosta dele, chorando e lamentando-se, manipulando-o para que você se sinta culpado.

4)Reações Psicossomáticas - Doenças físicas verdadeiras podem ocorrer em alguns indivíduos, se você cortar um hábito arraigado. Dores abdominais, dores de cabeça, desmaios são alguns dos sintomas possíveis. Para continuar assertiva, a pessoa deve, porém, optar por ser firme na asserção, reconhecendo que o outro se ajustará às novas condições em pouco tempo. Você deve também ser coerente em sua asserção quando quiser que a mesma situação ocorra com este indivíduo. Se você é incoerente na asserção de seus direitos, a outra pessoa ficará confusa. Ele ou ela pode vir a simplesmente ignorar sua asserção.

5)Desculpas Excessivas - Em raras ocasiões, depois de você ter afirmado seus direitos, o outro indivíduo se tornará muito humilde com você ou se desculpará demais. Você deve mostrar-lhe que esse comportamento é dispensável. Se, em encontros posteriores, ele parecer temê-lo ou estar excessivamente respeitoso com você, não se aproveite dele. Ao invés disso, você pode ajudá-lo a ser assertivo, utilizando os métodos que descrevemos.

6)Vinganças - Se você tiver uma relação prolongada com a pessoa com a qual foi assertivo, há chance de ela procurar se vingar. Primeiramente, pode ser difícil entender suas intenções, mas com o correr do tempo seus propósitos se tornarão evidentes. Quando você tiver certeza de que ela planeja complicar terrivelmente sua vida, o método indicado é enfrentá-la diretamente, pondo as cartas na mesa. Geralmente isto é suficiente para fazê-la parar suas táticas vingativas.

  

OPTANDO PELA NÃO-ASSERÇÃO

 Opção é a palavra chave no processo assertivo. Desde que você esteja realmente convicto (com a certeza adquirida em encontros assertivos anteriores bem sucedidos) de que consegue ser assertivo, você pode em dado momento decidir não querer ser assim. A seguir citaremos algumas circunstâncias em que se pode optar pela não-asserção:

1)Indivíduos Extremamentes Sensíveis - Em certas ocasiões, a partir de suas próprias observações você pode concluir que certa pessoa é incapaz de aceitar mesmo as asserções mais simples. Quando isso é óbvio, é muito melhor se resignar e não arriscar nenhuma asserção. Embora haja tipos supersensíveis que usam aparente fraqueza para manipular os outros, todos temos consciência de que há alguns indivíduos que se sentem tão facilmente ameaçados que a menor discordância os faz explodir, ou interiormente (e assim ferindo-se), ou exteriormente (e assim ferindo outros). Você deve evitar contatos com este tipo de pessoas o máximo possível, mas se isto for inevitável, há respostas alternativas, como aceitar essa pessoa como ele é e não causar atritos, se isso for possível.

2)Redundância - Uma vez ou outra a pessoa que desrespeitou seus direitos notará que se excedeu antes que você tenha demonstrado sua asserção. Ela estão remediará a situação de modo apropriado. Obviamente você não deve esperar eternamente até que ela faça isso. Além disso, você não deve hesitar em ser assertivo se ela falhar em se corrigir. Se, por outro lado, você vê que a pessoa reconheceu a falta dela, você não deve insistir na sua asserção.

3)Sendo Compreensivo - Uma vez ou outra você pode escolher não ser assertivo porque nota que a pessoa está tendo dificuldades; as circunstâncias podem estar sendo adversas para ela. Em um restaurante, à noite, depois de ter pedido um certo prato, notamos que a cozinheira nova estava tendo grandes dificuldades. Portanto, quando nossa refeição chegou, não exatamente como havíamos pedido, escolhemos não ser assertivos em vez de "complicar" ainda mais. Outro exemplo é quando um conhecido seu está em um dia ruim ou com um mau humor incomum. Nestes caso você pode escolher "passar por cima" de certas coisas que o incomodam, ou adiar um confronto até um momento mais produtivo. (Cuidado: É fácil usar "não desejar magoar os sentimentos de outrem" como racionalização para a não asserção, quando a asserção seria mais apropriada. Se você se encontrar fazendo isso frequentemente, sugerimos que examine cuidadosamente seus motivos verdadeiros).

 QUANDO VOCÊ ESTÁ ERRADO

 Principalmente em suas primeiras asserções, pode acontecer que você seja assertivo em uma situação interpretada erroneamente. Além disso, pode ser que você use uma técnica ainda imperfeita e ofenda a outra pessoa. Se quaisquer destas situações ocorrerem, você deve ter muito boa vontade em admitir que errou. Não há necessidade de se justificar em demasia, tentando remediar a situação naturalmente, mas você deve ser aberto suficientemente para demonstrar que sabe quando cometeu um erro. Mais ainda, você não deve ficar apreensivo com as asserções futuras em relação àquela pessoa, se você sentir novamente que a situação exige isso.


Texto extraído do livro:

ALBERTI & EMMONS Comportamento Assertivo: um guia de auto-expressão. Belo Horizonte: Interlivros, 1978.

 

 

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