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O que é comportamento ?
Júlio César de Rose


O que é comportamento ? - Júlio César de Rose

    De modo genérico, o termo comportamento refere-se à atividade dos organismos (animais, incluindo o homem), que mantêm intercâmbio com o ambiente. Essa atividade inclui os movimentos dos músculos estriados e dos músculos lisos, e a secreção das glândulas. Na linguagem cotidiana, frequentemente nos referimos aos comportamentos que envolvem a musculatura estriada como comportamentos voluntários, enquanto denominamos involuntários aqueles que envolvem a musculatura lisa e as glândulas. Numa linguagem mais rigorosa, esses termos são evitados, e falamos de comportamentos operantes e respondentes (ou reflexos).

     Nos comportamentos respondentes, uma resposta é eliciada, provocada, por um estímulo antecedente: a comida na boca (estímulo antecedente) elicia salivação (resposta), um toque na pálpebra (estímulo antecedente) elicia fechamento da pálpebra (resposta), um barulho forte e súbito (estímulo antecedente) elicia um conjunto de respostas, incluindo aceleração da taxa cardíaca, aumento de pressão arterial, queda da resistência elétrica da pele provocada pela atividade das glândulas sudoríparas, etc. A eliciação desse conjunto de respostas está envolvida na emoção que denominamos medo. A ocorrência dessas respostas em presença desses estímulos é importante para o funcionamento e sobrevivência do organismo, e constitui parte de suas capacidades “inatas”: quando a propensão para um estímulo eliciar uma resposta é inata, denominamos a relação entre estímulo e resposta como um reflexo incondicionado, e denominamos tanto o estímulo quanto a resposta como incondicionados. Essas respostas podem ser condicionadas, passando a ocorrer em presença de estímulos associados com os estímulos incondicionados.

     Assim, o cheiro do limão, ou a palavra limão, pela sua associação com o suco de limão, passam a eliciar a resposta de salivação. Um grito de um adulto é, para um bebê, um estímulo incondicionado para respostas de medo; a simples presença de uma pessoa que grita frequentemente com ele se torna capaz de eliciar as respostas de medo. O processo de condicionamento é muito importante na determinação de nossas emoções.

     Uma parte significativa do comportamento humano (e de outros animais) não é eliciada por estímulos antecedentes. Esses comportamentos, como diz B. F. Skinner, modificam o ambiente e essas modificações no ambiente levam, por sua vez, a modificações no comportamento subsequente. Denominamos esses comportamentos de operantes, para enfatizar que eles operam sobre o ambiente. Dirigir um carro, pregar um prego, falar, fazer contas, são exemplos de comportamentos operantes.

     Comportamentos operantes constituem a maior parte das atitudes visíveis dos seres humanos, mas até mesmo aquela atividade frequentemente invisível que nós denominamos pensamento envolve comportamentos operantes, reduzidos em sua magnitude ao ponto de tornarem- se invisíveis para os demais, como quando uma pessoa “fala para si própria”. Nesse caso, o comportamento operante de falar está ocorrendo, mas tão reduzido em sua escala que não é visível para os demais. A capacidade de comportamentos encobertos é resultado de aprendizagem: um músico aprende a ler uma partitura, tocando as notas em um instrumento ou cantando. Com a prática, ele torna-se capaz de cantar as notas de um modo inaudível para os demais, mas audível para ele mesmo. O mesmo ocorre quando uma criança aprende a ler em silêncio.

     Esses comportamentos invisíveis são denominados de comportamentos encobertos. Infelizmente, em nossa cultura, inventou-se, para explicar a ocorrência de comportamentos encobertos, uma entidade imaterial denominada mente. Essa noção nos levou a perder de vista o fato de que comportamentos encobertos são operantes, do mesmo modo que os comportamentos visíveis. Pior, essa entidade inventada, que denominamos mente, passou a ser tomada como explicação dos comportamentos visíveis e, deste modo, as causas reais desses comportamentos têm passado despercebidas.

     O comportamento de qualquer organismo é contínuo, um fluxo de atividade que nunca cessa. Nesse “comportamento”, tomado em sentido genérico, distinguimos “comportamentos” específicos, isto é, procuramos encontrar unidades que se repetem. Assim, falamos dos comportamentos de acender a luz, contar uma piada, dirigir um carro, etc. Mas, como dissemos anteriormente, a atividade de um indivíduo é contínua e somos nós que arbitrariamente a dividimos em unidades. Estamos supondo que esses “comportamentos” específicos podem ocorrer repetidas vezes ao longo da vida de um indivíduo. Mas, se fizermos uma observação rigorosa, veremos que não há nada na atividade de um organismo que se repita de modo rigorosamente igual.

     Tomemos como exemplo o comportamento operante de contar uma piada, desempenhado por um humorista. Ele conta muitas piadas ao longo de sua vida, e nunca conta a mesma piada de modo rigorosamente igual. Podemos dizer que o operante de “contar piada” é na verdade uma classe que engloba muitas respostas diferentes: contar diferentes piadas, e contar cada piada particular de muitos modos diferentes. Por que consideramos que todas essas respostas pertencem à mesma classe? Porque todas elas têm, tipicamente, uma consequência importante em comum: a consequência é produzir risos na audiência (note que a consequência não precisa ocorrer todas as vezes que o comportamento ocorre: às vezes, a pessoa conta uma piada e ninguém ri). Quando a resposta de contar uma piada tem, como consequência, risos da audiência, a ocorrência de respostas da mesma classe no futuro torna-se mais provável.

     Dizemos que as risadas da audiência reforçam o operante de contar piadas. Se nós observamos que as risadas que ocorrem como consequência de uma resposta de contar uma piada tornam mais provável a repetição da mesma piada, nós poderemos considerar que as respostas de contar aquela determinada piada constituem uma classe de respostas que são reforçadas por uma consequência comum, risadas da audiência. No entanto, para a maioria das pessoas, nós podemos observar que as risadas da audiência após uma piada aumentam a probabilidade subsequente de contar não apenas a mesma piada, mas várias outras piadas. Por esse motivo, consideramos que a classe de respostas engloba contar piadas, em geral, e não apenas contar a mesma piada. De modo semelhante, acender a luz é uma classe de respostas.

     Esta classe inclui várias formas de resposta: com a mão direita, com a mão esquerda, com o indicador, com o dedo médio, com o braço completamente esticado ou com ele parcialmente flexionado, etc. Todas essas respostas têm, como consequência, iluminar o ambiente, e esta consequência torna mais provável, no futuro, a ocorrência de respostas desta classe. É essa relação de uma classe de respostas com uma consequência comum, e o fato de esta consequência levar, no futuro, a um aumento na probabilidade de respostas dessa classe, que nos permite identificar o que constitui uma unidade de comportamento, um operante. Unidades de comportamento respondente também são identificadas em termos de classes de resposta, mas as classes são relacionadas com os estímulos antecedentes, e não com a consequência.

     Como você pode ver, explicar o que é comportamento não é tão simples como parece. Se você quiser saber mais a respeito, estude os livros de B. F. Skinner, principalmente Ciência e Comportamento Humano e Contingências de Reforço (este último disponível em tradução parcial na coleção Os Pensadores, da Editora Abril Cultural. 


     Júlio César Coelho de Rose é bacharel em Psicologia pela Universidade de Brasília (1972), Mestre em Psicologia (Psicologia Experimental) pela Universidade de São Paulo (1979) e Doutor em Psicologia (Psicologia Experimental) pela Universidade de São Paulo (1981). Atualmente professor titular da Universidade Federal de São Carlos.

 

 

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