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Afinal, o que é Psicoterapia?
João Ilo Coelho Barbosa - Universidade Federal do Ceará
Ouve-se muito falar que só vai ao psicólogo quem já está "louco", seja pela perda do "controle mental" ou pela "loucura" que é gastar dinheiro com um tratamento psicológico. Muitas vezes é essa a imagem que o leigo tem do psicólogo e da psicoterapia. Neste sentido, gostaria de discutir um pouco sobre a natureza da psicoterapia, seus objetivos e a quem ela se destina, objetivando esclarecer melhor qual a função de um processo psicoterápico.
Antes de mais nada, a psicoterapia é um processo de autoconhecimento, ou seja, promove um maior desenvolvimento da percepção que o indivíduo tem de si mesmo, de seus comportamentos, pensamentos e sentimentos. Nem sempre as pessoas conseguem fazer essa auto-observação, e sofrem porque muitas vezes desconhecem as razões de seu agir, pensar ou sentir-se. A isso, pode-se seguir uma sensação de vazio, raiva ou frustração.
Há uma enorme variação entre as pessoas quanto ao grau de autoconhecimento que possuem, pois essa habilidade vai sendo adquirida de acordo com a história de vida de cada um, que o fez estar mais ou menos atento a si mesmo, por razões diversas.
A psicoterapia ou terapia comportamental não se resume ao tratamento dos sintomas já manifestos, e não há nenhuma restrição para se recorrer à psicoterapia em qualquer momento da vida em que o indivíduo sinta necessidade de se engajar em tal processo. Pelo contrário, ela busca fornecer subsídios para que a própria pessoa, entendendo melhor suas características, potencialidades e limites, previna a ocorrência de problemas psicológicos maiores.
Em minha experiência clínica, contudo, observo que mesmo quando as dificuldades surgem, aquela pessoa que encara o psicólogo como "médico de loucos" demora a buscar ajuda especializada, e muitas vezes, só irá recorrer a um profissional quando os problemas tornaram-se complicados o bastante a ponto de interferirem na dinâmica familiar ou produzirem sintomas tais como episódios depressivos, de ansiedade, stress, fobias, etc.
Chegamos então num ponto que é essencial para o sucesso da psicoterapia: a motivação do cliente. Na verdade, o terapeuta não é o responsável direto pelas mudanças ocorridas ao longo do processo psicoterápico, mas tem participação importante: a ele cabe analisar, apresentar alternativas e discutir juntamente com o cliente as formas de alcançar as mudanças desejadas. A motivação é a mola-mestra para que o cliente possa inclusive postergar ganhos mais imediatos que vinha obtendo, não enfrentando determinado problema (mesmo que com isso ele contribua para aumentá-lo ainda mais). Por sua vez, é papel do terapeuta mostrar a importância do esforço do cliente em reconhecer e enfrentar suas dificuldades, e apresentar os ganhos que ele está obtendo para sua vida presente e futura.
Finalmente, podemos afirmar que a psicoterapia não funciona de forma satisfatória para todos, por melhor que seja o terapeuta. Pessoas muito acomodadas ao seu dia-a-dia, que preferem ocultar suas dificuldades a tentar resolvê-las, que não permitem "perder seu tempo" falando de seus problemas com os outros, ou pessoas com muito pouca capacidade de se auto-observar são alguns exemplos de situações em que os objetivos do psicoterapeuta devem ser voltados antes de tudo para resolver estes empecilhos.
Artigo publicado no jornal O Povo