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Proposta do Behaviorismo
Hélio Guilhardi, ITCR, Campinas


Proposta do Behaviorismo - Hélio Guilhardi, ITCR, Campinas

   Classicamente, o behaviorismo é conhecido pela proposta que foi feita em 1913 por Watson. Então, quando a gente faz críticas a respeito do behaviorismo, a gente quase sempre está se referindo ao behaviorismo Watsoniano, sem ter muita noção disso.

   Então, olhando um pouquinho onde se localiza o behaviorismo, nós podemos dizer que teríamos a psicologia como uma área ampla e a psicologia divididas em escolas, em métodos de investigação, em subgrupos enfim. Uma destas escolas ou uma destas áreas de pesquisas (porque alguns acham que o behaviorismo não é uma escola, outros que é uma área de investigação, outros que é uma área de reflexão, vai depender de que autor a gente está buscando apoio). O behaviorismo seria uma área da psicologia, e tem outras áreas e propostas como a psicanalítica, rogeriana e assim por diante.

   A área odiada da psicologia é o behaviorismo. Então o que seria o behaviorismo?

   Hoje em dia, os autores modernos dizem que não há condição de você definir o que é behaviorismo. O que é behaviorismo? Bem, depende a respeito de que autor você está perguntando, e em que época você está buscando essa informação. Seria mais correto dizer que o behaviorismo tem uma "família de significados".

   Então, se eu fosse definir o behaviorismo por exemplo segundo Watson, em 1913, eu chegaria a uma definição mais ou menos do seguinte tipo: "O behaviorismo é o estudo do comportamento observado". Então, nesse sentido, ele é mais ousado porque Watson tinha uma característica de personalidade bastante agressiva e segundo ele, não existiria outra psicologia. Se deixasse por conta de Watson, ele tornaria o behaviorismo igual a psicologia. Psicologia só existe se for o estudo do comportamento observado e aqui está implícito também, quando ele fala de comportamento observado por dois ou mais observadores, a influência positivista (ele não fala, mas está implícito). O que quer dizer, como conseqüência, que ele não dava espaço para uma psicologia introspectiva. Isso porque o behaviorismo de Watson de 1913, aparece em oposição ao estruturalismo de Titchener, que é uma posição mentalista e que usava como método de investigação, a introspecção.

   Então, não é só uma proposta, vamos chamar assim, ideologicamente, em defesa da ciência sob a influência de Pavlov, sob a influência de Newton (físico), sob influência do positivismo de Comte. Não é só isso, mas também uma birra pessoal contra Titchener. Você fala do mundo externo e o mundo interno não existe. É daí que surgem aquelas clássicas considerações que o behaviorismo nega a vida interior, nega os sentimentos, nega as fantasias, que o ser humano seria uma caixa preta dentro dela em caixa vazia, dentro dela não haveria nada. Então, é essa a primeira definição de behaviorismo.

   Kantor, já na década de 60, faz uma outra posição. Para Kantor (ele diz assim), esse negócio de behaviorismo não existe só na psicologia. Onde quer que você estude de uma certa maneira o seu objetivo, seja ele na física, na biologia, seja ele na astronomia, seja na vida. Onde quer que você estude de maneira científica um fenômeno, você estará fazendo behaviorismo.

   Então nesse sentido, levando também até às últimas conseqüências, na definição de Kantor, behaviorismo é igual ciência. Behaviorismo seria para Kantor o "estudo de eventos confrontáveis". Eventos esses, que tem um mesmo "status".

   Para vocês terem uma idéia, a teoria da geração espontânea na biologia tem receitas para você produzir ratos. Você pega um canto escuro, joga os restos de comida, panos úmidos e deixa de repouso por um certo tempo. Depois de 40 a 50 dias, indo lá, vai encontrar ninhadas de ratos (teoria de geração espontânea). Então, você explica um fato paupável, a existência dos ratinhos alí, por uma energia vital que estaria produzindo seres vivos. Isso não é evento confrontável.

   Se vocês compararem, por exemplo, com a visão da genética: cromossomos da mãe com cromossomos do pai, genes dentro do cromossomo que geram filhotes, ratos machos com ratos fêmeas, ... Não precisa ter pano úmido, nem resto de comida. Mudou o nível. É a mesma coisa da lei da gravidade do tempo de Aristóteles. Ele dizia que um corpo se aproxima da terra porque ele tem júbilo em de aproximar da terra e quanto mais próximo da terra esse objeto, maior o júbilo e portanto mais veloz ele chega. Com essa percepção ele descreve também a lei da gravidade. Quanto mais próximo, quanto maior a distância percorrida pelo corpo, mais aceleração esse corpo tem. Então, é uma visão correta, mas a noção de júbilo não é confrontável, e não cientificamente estabelecida como seria na lei de Newton da gravidade.

   Nesse sentido, astrologia seria não behaviorista, a astronomia seria behaviorista. É uma posição de Kantor, para mostrar como as coisas vão evoluindo com o passar do tempo.

   Uma terceira proposta (eu selecionei três porque elas são bem ilustrativas) é a de Skinner, mas existem outras. O Skinner por outro lado diz assim: existe uma tal de "ciência do comportamento". Quando você vai para o laboratório e pega lá um ratinho, bota para pressionar a barra (privado de água), o rato pressiona, ganha água, pressiona e ganha água. Faz isso dezenas, centenas de vezes, o rato, o jacaré, o elefante e o jaboti. Você verifica que há uma regularidade nisso. Então, você chega a um conceito ou lei. Esse conceito, no caso, seria o conceito de reforçamento.

   Esse trabalho árduo, objetivo, criterioso, chato, limitado produz um conceito de reforçamento que é exemplo de ciência do comportamento. Isso não é behaviorismo para o Skinner, mas para Watson seria. Para Skinner, o que deriva disso, as questões teóricas e filosóficas a respeito da ciência do comportamento, isso sim, seria behaviorismo.

   Para Skinner, behaviorismo seria a "filosofia da ciência do comportamento". Por exemplo: se eu tivesse conhecimento desse negócio de reforçamento e eu chegasse e perguntasse assim: demonstrando o princípio de reforçamento com rato, você acha que esse princípio se aplica com humanos? Esta questão já não é uma questão empírica. É uma questão filosófica ou teórica. (Pergunta a um aluno) Você acha que não, outros achariam que sim, acharão que para algumas respostas sim, mas não para todos os humanos.

   Essa discussão a respeito da extensão do condicionamento, que é científica, seria para Skinner o behaviorismo.

   Outra questão: se eu demonstrar que algumas respostas num ser humano são controláveis? É uma outra discussão. Se eu controlar um indivíduo por exemplo. Se eu pegar um paciente psiquiátrico e controlar esse paciente psiquiátrico. Ele babando num canto quieto, e eu reforço ele através de modelo, etc... Aquelas coisas que vocês já conhecem. E eu faço com que ele venha à mesa e coma com garfo e faca sozinho. Será que, se eu controlar um ser humano, eu posso controlar uma sociedade?

   Todas essas questões constituem preocupações teóricas, são questões de discussão a partir de dados da ciência do comportamento. Sempre que as questões surgem a partir disso, você está fazendo, seguindo Skinner, uma filosofia da ciência do comportamento. Isto seria o behaviorismo.

   Neste sentido, se vocês estiverem numa sala com um professor de oposição ao behaviorismo que ficasse discutindo com vocês as validades ou não das propostas Skinnerianas, vocês estariam no final da aula, numa sala sobre o behaviorismo (pela definição de Skinner). É óbvio que a coisa não pára só no blá-blá-blá. É claro que todas essas questões, para aqueles que estão interessados em respostas, suscitariam preocupações para vocês voltarem à investigação. Aí, você volta à investigação, e a novas respostas, novos dados, novas questões, e o círculo se repete. Então, quando eu disser ou quando alguém disser: "você é a favor ou contra o behaviorismo?" - a primeira questão que vocês têm que levantar é que depende de qual behaviorismo, de qual autor. Eu sou mais contra um autor do que outro, me interessa mais uma definição do que outra definição. Não é possível hoje você afunilar e dizer behaviorismo é isso.

   E aqui estão três exemplos de definições. Em 1948, um autor chamado MACE, propõe três tipos de behaviorismo que vou apresentar aqui. O primeiro tipo seria o behaviorismo metafísico. Basicamente, esse behaviorismo teve vida curta e um único adepto -Watson- na ânsia de trabalhar só com o observável, com o que é paupável e demonstrável. Ele cai em outro extremo que é "meta" (vai além de). O behaviorismo metafísico nega a existência da mente ou dos eventos mentais. Contudo, ele poderia apenas questionar, mas ele não tem evidências para negar. Conseqüentemente, Watson comete um erro lógico. Os que afirmam que existem sem demonstrar (e é exatamente esta a crítica dele) estão indo além da evidência. Aí ele cai em outro extremo. Ele também ao negar, também o faz sem demonstrar. Daí chamado de behaviorismo metafísico.

   Perseguido por essa crítica, que ele estava sendo incoerente com a sua própria proposta, deu-se então o behaviorismo metodológico. Esse é o pior de todos. O metafísico teve vida curta. Na verdade, nasceu prematuro e morreu. O metodológico tem uma forte influência do positivismo e do operacionismo. Então, pelo positivismo só é fato aquilo que é observado por dois ou mais observadores. Isso é um resquício da influência de Comte que diz que não existiria psicologia do indivíduo. O que existiria seria sempre no mínimo o evento social. No mínimo duas pessoas, senão, não existe o fato. Isso é Comte, criador da Sociologia.

   Watson traz para a psicologia toda essa influência e diz que para nós psicólogos, o fato mínimo é aquele que é observado pelo menos por duas pessoas, além daquele que se comporta. Eu posso estar pensando - eu estou observando meu pensamento. É claro que Watson nem admitiria isso, mas, a proposta do metodológico é essa. Ele diz que, enquanto no metafísico a ênfase é no que estudar, a ênfase no metodológico é como estudar. Então, o behaviorista metodológico diz o seguinte: não sei se mente existe ou não. É uma posição mais cautelosa. Porém, existindo ou não, não dá para estudá-la cientificamente.

   Assim, ele foge da crítica do ítem um e coloca uma restrição metodológica. Dado que não dá para estudar cientificamente os eventos mentais, eu não posso estudá-los. Não nega, mas nega a possibilidade do estudo científico. Por isso que a ênfase é no "como", no método. E este é o behaviorismo que cresce e se difunde, e praticamente é o que ganha mais espaço dentro da psicologia.

   Bom, o criador disso foi Watson e o Skinner até 1945 foi um behaviorista metodológico. A partir de 1945, Skinner rompe com o behaviorismo metodológico e faz uma proposta do behaviorismo que vem a ser chamado de radical, que apesar de ser chamado de radical, é menos radical do que o metodológico.

   É graças ao behaviorismo metodológico que aparecem todas essas pesquisas com animais. Dado que eu parta do pressuposto de que se a mente existe, e não é passível de estudo, eu posso estudar no animal aquilo que é observado e lidar com esses dados cientificamente. Eu vou fazer inferências a respeito do ser humano, a partir das coisas que foram objetivamente ou diretamente observadas.

   Existe um terceiro tipo - o behaviorismo analítico. É também chamado de behaviorismo linguístico. Behaviorismo este que nunca foi implementado. Ele foi definido e proposto, mas está parcialmente disponível, e se alguém quiser desenvolver, desenvolve se achar que vale a pena. Mas, de qualquer forma, esse behaviorismo analítico e linguístico, sofre uma forte influência de filósofos, um dos quais WITTIGENSTEIN.

   O behaviorismo analítico eu só vou definir, porque não tem pesquisas que o desenvolveram. Basicamente, o behaviorismo analítico/linguístico propõe o seguinte: os enunciados a respeito da mente tornam-se, quando analisados, em enunciados à respeito de comportamento. Então, esta proposta foge de uma preocupação sobre o que estudar. Eu vou estudar eventos mentais, e não mente; se existem ou não. Também não importa o como se estuda cientificamente. Se estudo filosoficamente, se estudo religiosamente. Ele não está preocupado com isso. Então, ele desloca a preocupação desses dois anteriores e faz uma outra proposta. O objeto de preocupação do behaviorismo analítico é o enunciado.

O enunciado nada mais é que uma afirmação verbal. Os enunciados a respeito de mente (ou as afirmações verbais a respeito de mente), as frases, as sentenças. Aquilo que foi dito a respeito de mente. Portanto, ele está estudando o que nesta proposta? Ele está voltando sua preocupação para o comportamento do estudioso e quem faz enunciado a respeito de mente é um Freud, um Rogers, um Skinner, um Jung. O que um indivíduo fala, o que o estudioso fala do indivíduo, tornam-se quando analisados em enunciados a respeito de comportamento.

   Na verdade, a proposta desse behaviorismo (linguístico/ analítico) é deixar de estudar o grande conflito mente-corpo, esse dualismo. Fugir também do método e propôr uma análise da contribuição dos estudiosos. Então, seria mais ou menos o seguinte: exemplo - Se nós fôssemos pegar Freud ao elaborar os conceitos de id, ego e superego, ele partiu de que? - Ele partiu da interação dele com os clientes, e mais de sua própria problemática pessoal, das influências da cultura da época, da própria cultura pessoal, etc...

   Para você entender esses conceitos, que são enunciados a respeito, ao analisar todos esses conceitos, teria que analisar tudo o que a eles está relacionado. Assim, a grande passagem sai de uma área de preocupação e parte para analisar a produção dos autores que estão construindo a psicologia. Peguei o exemplo de Freud que é mais evidente, mas poderia ter sido outro.

   Essa divisão em três tipos é retomada agora na década de 80 por dois autores: HARZEM e MILES. Em 1978 eles retomam o behaviorismo analítico e fazem um discussão mais aprofundada de seu potencial, mas, não foi longe ainda, pois é uma proposta conceitual, de pensar a respeito do problema. Não chegou no nível ainda de se transformar numa proposta de atuação.

   No behaviorismo radical que é a proposta de Skinner, na verdade, a essência é a seguinte: ele coloca os pontos básicos do behaviorismo radical. Skinner tem a seguinte trajetória. Ele é um pesquisador, aí trabalha com ratos depois com pombos e aí ele deixa de fazer pesquisa e vira um filósofo ou um teórico a respeito da ciência do comportamento. Por isso que afirma que é um behaviorista.

   Os livros de Skinner a partir de então, são livros alguns bastante especulativos como "WALDEN II", outros são propostas teóricas como "O MITO DA LIBERDADE". Então, não é mais pesquisador, nunca foi clínico e se ele se aproximou um pouco mais da prática foi na área educacional: máquinas de ensinar e instrução programada. Mas ele faz uma colocação teórica, que diz o seguinte: basicamente não dá para negar que debaixo da pele existe um universo. Então, ele fala em um mundo, em comportamentos expressos, erguer a mão, por exemplo: e ele fala em comportamentos encobertos, tudo aquilo que está debaixo da pele: pensamento, fantasias, delírios, alucinações, paixão, ódio, etc... Então, neste sentido, ele diz o seguinte: o mundo debaixo da pele é constituído por comportamentos e segue as mesmas leis, os mesmos princípios que os comportamentos expressos (colocação teórica).

   É essa a primeira colocação do behaviorismo radical: o mundo interno e o mundo externo obedecem às mesmas leis. A segunda colocação é a seguinte: como é que você vai ter acesso ao mundo interno? Então descarta posição do behaviorismo metodológico (que você precisa ter dois ou mais observadores externos) e restabelece a introspecção como método de estudo. Você só pode ter acesso ao interno, se você que tem esse mundo, observa-o de alguma forma.

   Então, basicamente é o seguinte: na noite passada eu sonhei e vou contar para vocês o meu sonho. Eu estou sendo observador do meu mundo interno. A questão, e isto é válido para a proposta do behaviorismo radical, é que existe esse mundo encoberto, esse mundo interno. A diferença é que, enquanto que para o estruturalismo de Titchener que é uma proposta dualista (mente e corpo), você ao fazer a introspecção vai observar os conteúdos mentais, para Skinner, você vai observar o próprio organismo se comportando.

   Assim, ele mantém aqui o monismo. Não existiria uma outra entidade chamada mental, na linguagem psicológica; não existiria uma outra entidade chamada espiritual, numa linguagem religiosa. O que você observa introspectivamente é o comportamento do seu próprio organismo, ou seja, é o próprio organismo. Então, ele questiona o que é introspeccionado, e portanto, conhecido.

   Neste sentido, o behaviorismo radical faz uma recuperação daquilo que Watson havia quebrado em 1913 e que o behaviorismo metodológico manteve quebrado durante todos esses anos.

   O behaviorismo metodológico é uma excelente proposta para quem está basicamente interessado em pesquisa, e pesquisa seguindo o modelo de ciência natural, porque aí você vai trabalhar o comportamento observado, manipular variáveis controláveis e assim por diante. Mas, o metodológico é um behaviorismo, por exemplo, que não se aplica quando você está interessado numa atuação clínica ou mesmo numa atuação educacional. Ele tem limites para isso.

   Já o behaviorismo radical permite que você entre na investigação. É claro que o behaviorismo radical tem outras coisas, mas, só para vocês se localizarem proponho o livro: "Sobre o Behaviorismo", do Skinner.

   A próxima etapa agora é discutir o conceito de estímulo (S) e resposta (R). Classicamente, a gente começa novamente lá no Watson. Ele recebeu a influência do positivismo de Comte, do mecanismo de Newton, e aí que vem essa idéia: basta um S para provocar uma R; um fato pode ser explicado por um único S que ele é necessário e suficiente. Watson recebeu a influência dos fisiologistas através do estudo de reflexo que vem na psicologia S-R, que é um conceito da fisiologia. Ele recebeu a influência de PAVLOV que descreveu o reflexo condicionado. Nem tudo pode ser explicado por S-R. Existem Ss que são associados devido aos Ss condicionados.

   Além de PAVLOV, DARWIN influenciou Watson com a teoria da evolução. Se você não aceitar essa teoria você não pode estudar animal para compreender humano, porque há necessidade de um pressuposto da continuidade. Todas essas influências marcaram Watson a propôr em 1913 o que é o behaviorismo.

   De lá para cá, se manteve isso: S provoca uma R. Depois, isso foi expandido para: o S provoca R, e da R aparece outro S que vai ter uma função reforçadora ou aversiva, e daí se sai para a extinção, punição, etc... Ou seja, comportamento reflexo ou pavloviano e comportamento operante ou Skinneriano.

   Esta noção foi substituída, mas hoje em dia muitos consideram até essa fase aqui, e a gente confunde a R com o comportamento, como se fossem coisas equivalentes. Dentro da linguagem comum, a gente continua misturando os dois termos. Vamos fazer então, uma pausa para fazer uma distinção entre R e comportamento.

   Resposta é uma coisa, é um ato do organismo. Por ex.: chorar é R, por enquanto. Nesse sentido, R é uma ação (num sentido bem amplo) do organismo. Como tal, a R não é objeto de estudo da psicologia. Ela é um objeto de estudo da biologia. Da mesma forma, o estímulo como uma alteração no ambiente, não é tipicamente objeto de estudo da psicologia. Ele é um objeto de estudo da física. O que seria comportamento?

   Comportamento não é nem organismo e nem ambiente. Então, eu não vou falar nem S e nem R. Vou falar em comportamento que, para efeitos de estudo, é arbitrariamente dividido em frações menores chamadas Respostas.

   É arbitrário por exemplo: eu poderia ter no meu consultório o indivíduo que diz que vai matar a mãe e diz que vai comprar uma arma para matar a mãe. Enquanto ele não compra essa arma e não mata a mãe, ele já começa a expressar comportamentos de agressão à mãe. Então ele xinga a mãe, ele empurra a mãe quando ela chega perto ("Suma daqui"), bate a porta na cara da mãe etc... Eu posso analisar esse indivíduo pegando a R de agressão à mãe. Então eu estou pegando o organismo e arbitrariamente para definir, eu vou estudar o delírio dele; como posso (veja como é arbitrário) querer estudar o delírio dele mais a interação dele com a mãe e o que o leva a eleger no delírio, a mãe. Ele poderia agredir o pai, o irmão. O indivíduo pode ter um delírio a respeito de um santo na igreja. Eu posso analisar a interação dele com a igreja, as influências na vida dele que faz com que no delírio ele tenha isso como conteúdo. Esse é um exemplo de como a divisão é arbitrária.

   Bom, de um lado eu tenho o organismo e por outro lado eu tenho o ambiente que, para efeito de estudo, arbitrariamente eu divido em unidades menores que eu chamo de Ss. Assim, vamos chegar à noção de comportamento. Comportamento não é nem S e nem R. Comportamento não é coisa alguma. A primeira coisa a ser dita é que comportamento é um conceito. Que tipo de conceito? Um conceito relacional. Relaciona o quê com quê? Comportamento é um conceito relacional que relaciona ambiente com organismo. E a influência é recíproca. Portanto, se eu perguntar para vocês nesse diagrama S->R, ambiente e organismo, onde está o conceito de comportamento? Ele está na seta. Não é nem ambiente nem organismo. É a relação dos dois. Então, nesse sentido, comportamento passou a ser um conceito relacional.

   Mas existe também uma complicação. Por exemplo: como eu explicaria segundo esse modelo a seguinte situação:

(Pergunta à aluna): - Como é seu nome?

Resposta: - Jaqueline.

Por que ela respondeu Jaqueline? Porque eu perguntei. Você tem aqui um evento externo de eu perguntar para ela (Qual é o seu nome?). Se eu mesmo, antes de nós nos conhecermos, tivesse feito a mesma pergunta para ela às 3 horas da manhã na rua 13 de maio: Qual é o seu nome? Tanto ela poderia dizer: - Jaqueline às suas ordens! Como também sair correndo, disparar seu coração, ter uma descarga de adrenalina, gritar por socorro etc,... Portanto, ela não respondeu "Jaqueline" à minha pergunta porque eu perguntei. Ela respondeu porque:

01- eu perguntei;

02- pela situação. Ela de certa forma aprendeu a respeitar a autoridade. Ela poderia dizer: Não interessa! Ela poderia ter dito isso por outros motivos. Existe também uma história cultural nela que é de responder com educação quando ela é solicitada em certas circunstâncias. Existe um fato, que ela se chama Jaqueline (poderia até ter mentido - é outro componente). Poderia até ficar quieta. De qualquer forma, existiria uma R de ficar quieta. Mas porque ela ficaria quieta?

   Vamos analisar a reação dela de ficar quieta. Porque? Ela é muda? (é uma razão); ela não fala com estranhos?; ela odeia o nome dela?; ela é esquizofrênica que não responde?; ela só fala quando quer?, etc... O silêncio seria uma R e teria determinantes.

   Agora vem a noção de ambiente e organismo. Parte do que ocorreu aqui com a Jaqueline foi provocado pelo ambiente externo. (- Qual o seu nome?). E parte ocorreu pelo mundo interno (-Jaqueline). Então, nós não podemos mais dizer que ambiente é aquilo que está fora da pele. O ambiente tem que incluir também o que está debaixo da pele. Então, os meus valores, o que eu penso e o que eu sinto também funcionam como S. Na hora que um elemento desencadeador, que pode ser externo (Qual é o seu nome?) ou poderia ser interno: de repente ela se levanta e sai. Porque ela saiu? Eu não mandei ela ir embora, você não mandou, ninguém chamou. Ah! São dez horas e eu me lembrei que tenho que dar um telefonema. Ela está respondendo não a um evento externo, mas a um evento que ela interiorizou e fez que às dez horas ela ligue para casa para saber se o feijão foi colocado na panela. É uma ação do organismo. Pela definição de Skinner, é um comportamento, isto é, o organismo se comportando, como o organismo pensando. Teríamos nós uma linguagem mais cotidiana: ela lembrou-se de uma obrigação (perfeccionista, responsável, quer garantir sair na hora). Então o evento interno a desperta e ela sai. Agora, o fato dela sair vira um evento externo para nós. Onde foi? Que foi fazer? Que pretende? Vai desencadear diferentes coisas. Quem sabe, ela é uma pessoa preocupada com o almoço. Como todas as vezes, ela telefona para garantir que o almoço saia. Eu posso dizer que ela está cheia da aula, outras que ela foi ver a nota que não entregaram. Quer dizer, cada um de nós age em função de outras informações. Neste sentido, nós chegamos à seguinte situação: não dá para falarmos em ambiente e organismo. São termos muito genéricos e pouco funcionais. Então, a gente fala em eventos com função de S e eventos com função de R, e o comportamento então, é um conceito relacional que explícita a relação entre as funções. E agora eu digo assim: eu preciso telefonar para casa para avisar que está na hora de pôr o feijão no fogo (foi uma R). Isso tem função de R e imediatamente este mesmo evento tem uma função de S porque induz a R seguinte e aí você tem um fluxo de comportamento.

   O comportamento então é unitário, um fluxo contínuo, indivisível, que no entanto, nós, para efeito de compreensão o deformamos, tornando-o em pedaços arbitrariamente quebrados.

   Quando o terapeuta diz assim: eu quero acabar com a R de chupar o dedo de uma criança (Não sei se ele pode fazer isso!), ele está dividindo comportamento em unidade (chupar o dedo) e pode estar até certo, pode ser eficiente. Pode ser necessário. Se ele está comendo o dedo, vai ficar sem o dedo, talvez seja urgente. Ou você pode pegar uma unidade maior: que aspectos afetivos levam-no a se auto-degolar? O tamanho da unidade depende da proposta teórica, ou da ideologia dele, e assim por diante.

   Vocês estão vendo a série: "O primo Basílio"? Vou resumir a história:

   Quando a Luiza começa a definhar e ela vai definhando cada vez mais, eu pergunto: ela está tendo um comportamento ou uma resposta? Vamos analisar: de um lado nós podemos olhar assim: do ponto de vista médico, o que o médico poderia fazer por ela? Ele poderia fazer: exame de sangue, de fezes, de urina, eletro, batimentos cardíacos, dar vitaminas, sugerir boa alimentação, sono etc... O máximo que poderia fazer por ela era trabalhar com respostas e não é função do psicólogo. É claro que se estiver na mesa uma pessoa deprimida, angustiada, ansiosa, mal, desamparada. Em resumo, se nós fôssemos atender a essa pessoa, onde apareceria o comportamento? Vamos observar (desculpe reduzir a Luiza a organismo):

   Por que ela está definhando? Ela perdeu alguma coisa? Perdeu: o Basílio, perdeu as cartas, status, tranqüilidade, está com medo da empregada, com culpa, rejeitada. Ela está questionando os valores dela? Em relação ao Jorge, ela está sentindo que o Jorge a ama? Ama. Para aumentar a culpa sente-se amada pelo Jorge. Os valores dela, a pressão ("mulher que trai tem que morrer"), os valores da cultura... Tudo isso que ocorre nela são elementos que estão nela e fora dela. É da interação disto tudo que produz o estado de se sentir cada vez mais se definhando. Como ela não foi a uma terapia, mas de qualquer maneira, um terapeuta teria que fazer uma relação dessas coisas e relacionar o que ela pensa e sente com o que ocorreu. Portanto o definhar é o sintoma, o definhar é uma R que tem componentes biológicos (perda de peso, alterações no metabolismo etc...) e tem componentes emocionais também: perda de motivação pela vida, depressão, baixa auto-estima e tem componentes psicológicos também.

   Agora, pode-se fazer uma análise puramente médica. Ela pode comer o que quiser, ela pode tomar vitamina e se conseguirmos fazer com que ela coma e tome vitamina. Porque psicologicamente você não trabalhou os aspectos que estão se expressando? Na verdade, o definhar dela é uma expressão, é um sintoma do seu real problema. Se nós fôssemos analisar então, qual seria o comportamento dela? Não é comer pouco, é comer pouco relacionado ao fato de que ela se sente com culpa, com medo, desvalorizada, rejeitada, e a relação dessas duas coisas, o que ela pensa e sente, e o que ela acaba fazendo com o organismo dela, com o que está acontecendo. Mas obviamente, é esse definhamento que vai produzir a morte, e que isto tem já (é claro que Eça de Queiroz não sabia disso), evidências em laboratório. Não tinha na época, são pesquisas posteriores.

   São pesquisas sobre situação de tensão. Se você tem uma ameaça, no caso de um animal seria um S (sinal) por exemplo: luz que após algum tempo vem uma situação aversiva (choque elétrico). Quando a empregada diz: vou mostrar as cartas se você não me der o dinheiro, se não me der as coisas, você tem uma ameaça e a estimulação aversiva vem inevitavelmente. Você fica em estado de ansiedade. Se nesse período de ansiedade você puder emitir uma R que elimine a situação aversiva (o que eu estou chamando corretamente de R poderia ser comportamento).

   Luz! Em 10 segundos vem um choque. Porém, se eu pressionar a barra a luz se apaga e o choque não vem. Isso é R ou comportamento? (Pergunta de novo). O animal olha para a luz. Oh! Luz outra vez, desgraçada, eu sei o que você significa para mim. É um choque, mas eu sei como eliminá-lo - pressionando a barra. Ela está relacionando alguma coisa com alguma coisa? Está, é comportamento. Agora, se um fisiologista perguntasse assim: será que o músculo de um rato que olha para a luz ameaçadora, vê o choque elétrico que vem, vai correndo pressionar a barra, será que esse músculo é mais tenso ou mais relaxado? Será que nesse músculo existe mais niozina ou menos niozina? As questões de investigação desse fisiologista é dirigida ao estudo do comportamento do rato ou da R do rato? Da R do rato, pois ele está interessado no músculo, extensão do movimento.

   Quando a empregada chega e diz assim: que blusa bonita! Eu gostaria de tê-la se a senhora não se importasse. Ela está apresentando um sinal de que há algo pior. Ou a blusa ou as cartas para o Jorge. Aí, você me dar a blusa é a R, e a carta não vai para o Jorge. Reduziu a ansiedade, só que no caso do rato ele sabe o seguinte: pressiono a barra e estou salvo do choque. Mas no caso da Luiza, ela tem certeza que isso não acaba nunca. Então, é o comportamento que a Luiza emite, e a R (de arrancar a blusa) reduz a ansiedade, porém só temporariamente. É aí que tem o mundo encoberto que Watson diria, tirou a blusa e reduziu a ansiedade, e o Skinner diria, calma lá, é o mundo interno: o mundo interno que depois da blusa e depois a saia vem o resto, não tem fim.

   Quando a pessoa entra no esquema de ansiedade e não a reduz duradouramente, ela entra num estado chamado de desamparo. O desamparo se caracteriza pelo abandono. (-Não tem jeito mesmo). E esse estado tem componentes emocionais, afetivos, cognitivos, intelectuais e orgânicos (morte). Portanto, Eça de Queiroz sem conhecer psicologia previu certo o que ia acontecer.

 Resumo:
   Behaviorismo não tem uma única definição e historicamente o behaviorismo tem evoluido na sua conceituação e evoluindo porque o behaviorismo nasceu dentro do laboratório, e foi evoluindo para situações de vida real. Quando ele foi vindo do laboratório para a vida real, foi se confrontando com problemas cada vez mais complexos, dos quais ele tem que dar conta. Das duas uma: ou ele evoluia ou ele não tinha nada a oferecer.

   Então, o behaviorismo é um movimento em desenvolvimento. Portanto, definir behaviorismo hoje é muito difícil. Fala-se que ele tem uma gama, uma família de significados e não significados múltiplos. Esse é o primeiro ponto.

   O segundo ponto é compatível com o primeiro: a própria noção da relação S - R desaparece e é substituída por um conceito mais amplo, o de comportamento, que é um conceito e não uma coisa, um conceito operacional que relaciona ambiente e organismo. E entendam que o conceito de ambiente sai de fora do organismo e invade também o organismo. Para dar conta disso, nós abandonamos a noção de organismo e ambiente, S e R, e falamos em função dos eventos função S e função R. Com este arsenal em mãos, nós podemos agora ter um grande material mais rico à disposição daqueles que queiram fazer investigações práticas.

   Eu queria comentar com vocês algumas questões mais de natureza prática. Uma rápida pincelada histórica a respeito de como é essa área de atuação que é chamada de modificação de comportamento (mais na área educacional) ou terapia comportamental (área clínica). Bom, não há um consenso de decisões. Mas há o fato de que a análise experimental do comportamento começa no laboratório.

   Até agora eu falei em behaviorismo e não falei em análise experimental do comportamento. Normalmente, nos cursos de psicologia tem uma disciplina chamada "Introdução à Análise Experimental do Comportamento", e havia muita confusão, como ainda hoje, nessa disciplina como sendo o behaviorismo.

   Para uma melhor clareza, vejamos. A análise experimental do comportamento não é o behaviorismo que eu já defendi. Não é uma área da psicologia, como por exemplo, teoria da personalidade, psicologia do desenvolvimento, psicologia social, que seriam áreas. A análise experimental não é uma área. O que é então? É um modo de estudar o objeto da psicologia. Então, se vocês tiverem que estudar masoquismo, eu poderia estudá-lo usando o método da análise experimental do comportamento. Podemos estudar cooperação social - seria meu objeto de interesse através do método da análise experimental do comportamento. Podemos estudar percepção usando esse método que consiste basicamente em usar animais em laboratório e fazer pesquisas controladas (Nem sempre é muito de nosso interesse).

   Raramente com humanos é possível fazer análise experimental do comportamento porque o experimental fica prejudicado quando você trabalha com humanos. O que você pode fazer na melhor das hipóteses é um análise de comportamento. Estou dizendo isso para chegar a um ponto. A partir de conhecimentos da análise experimental do comportamento, introduziram-se coisas do tipo: conceitos de reforçamento, extinção, punição, esses conceitos todos. A partir deste corpo de conceitos, surgiram os procedimentos de tratamento, tanto na prática clínica como na prática educacional. É claro que você poderia perguntar: do animal eu passo para o humano? Veja bem, aqui é uma questão delicada. Com o animal, você pode na verdade, concluir a respeito de alguns conceitos básicos. Agora, a transposição para o humano é um passo gigantesco que vai depender da criatividade, da sensibilidade e da competência do profissional que está trabalhando.

   Eu posso entrar numa escola e querer melhorar a performance dos alunos dando fichas por seus melhores desempenhos. Hoje só um profissional débil mental faria isso. Há outras coisas muito mais relevantes para serem analisados no contexto educacional do que dar ficha para um aluno que precisa melhorar a nota, e isso, é claro, tem problemas ideológicos, políticos por detrás de uma atuação.

   A mesma coisa vale para a clínica. Agora, só para vocês terem uma idéia, é graças também a estudos com animais que existem críticas sérias ao uso dos próprios princípios nua e cruamente, e a esse uso nú e crú para a aplicação com humanos. Por exemplo, os estudos de LORENS sobre imprinting questionam a eficácia do reforçamento, extinção e punição para influenciar o vínculo. A gente nota crianças que mesmo sendo punidas pelos seus pais, e que, digamos assim, por reforçamento e extinção tenderiam a evitar vínculos muito fortes com seus pais punitivos, não se afastam. Mesmo que você busque explicações como: mas então, o pai além de tudo deve também estar reforçando (que é uma maneira de você tentar salvar a teoria). Você vai observar isso também, observar reforçamento. Então, como se explicaria isso? Você vai ter que cair em outras interpretações, outras possíveis explicações, e o imprinting mostra isso.

   Não existe necessariamente uma única explicação lógica, e nem sempre os princípios de reforçamento e punição dão conta do fenômeno que você observa. Neste sentido, não é uma proposta behaviorista, mas uma proposta riquíssima em termos de movimento, estes trabalhos de LORENS a respeito de laços afetivos de informação. LORENS tem uma forte inclinação afetiva. Então, ele é um psicólogo que faz pesquisas e tem uma forte sensibilidade clínica. Neste sentido, ele não faz uma proposta só teórica, mas faz uma análise de como ocorrem os vínculos humanos.

   Bom, agora historicamente eu estava dizendo o que aconteceu. O pessoal que trabalhava no laboratório aprendeu que você faz um programa de procedimentos. Põe um animal dentro da gaiola, põe de novo e depois verifica a partir daquele procedimento, com variáveis controladas, o que ocorreu com o animal. Isso tem uma fortíssima influência do behaviorismo metodológico: - Bem, se existe ou não, eu não sei, mas que não dá para estudar nele do ponto de vista da ciência natural. Portanto, eu ponho o rato, o pombo, o macaco na gaiola e não vou me preocupar com a mente deles.

   Até aí tudo bem. O que devo entender é que aquilo é um estudo análogo, simplificado, e que atende a alguns aspectos da aprendizagem. Só que é esse pessoal que pensa desta forma que começa a fazer a aplicação.

   A história de vida do indivíduo é muito marcante. Quando ele sai do laboratório e vai para a clínica, essa passagem não é uma coisa automática. Eu então começo a trabalhar com o mundo interno do indivíduo, e os primeiros estudos que você vê como aplicação, ou pode ser com crianças deficientes mentais, geralmente deficientes profundas (autistas) ou com pacientes psiquiátricos.

   Interessante aí também, que a analogia não é ainda colocada em xeque. Porque, se você pega um deficiente mental profundo, o quanto ele tem no mundo interno é muito limitado, o verbal dele é pobre. No mínimo é pobre enquanto expressão. Então, a analogia que sai do laboratório não é colocada em questão tão fortemente. Você trabalha com pacientes psiquiátricos crônicos que não falam a anos, que tem um mínimo de interação, e é o mesmo problema. O mundo interno não emerge com aquela força que questiona o modelo teórico e prático.

(   Observação de uma aluna): - Mas assim mesmo, às vezes quando se trabalha com pacientes profundos, mas que continuam vivendo em família, além das implicações que você pode até fazer por uma analogia quase direta com o que foi pesquisado no laboratório, eu acho que existem tantas outras contigências aí no ambiente em que ele está inserido. A família, a relação...

(Resposta Hélio): - Exatamente! Esses primeiros estudos iniciais eram feitos em Instituições. Então, não havia contato dessas pessoas, desses clientes com o mundo de fora.

   Então, o trabalho continuou. Eu me lembro de um trabalho que nós fizemos replicando um estudo de deficientes mentais. O objetivo era ver a criança normal, o que ocorria se usasse com ela um procedimento de reforçamento de intervalo fixo. No animal, o padrão seria este: o animal discrimina que logo depois do reforço não haverá reforço, e quando chega o tempo do próximo reforço ele aumenta a freqüência e ganha o reforço. Foi isso que se obteve com com animais. Com deficientes profundos, isso se obteve. Com deficientes profundos isso se obteve, e com doentes psiquiátricos crônicos essa curva também se obteve. Quando nós fomos fazer com crianças normais, aconteceu então que a curva era totalmente irregular, não havia obtenção do padrão. Aí, observando através do espelho como as crianças trabalhavam, ficou claro qual era o sistema. Havia uma alavanca que a criança deveria mexer e o reforço era dado para ela (brinquedo). Só que quando a criança começou a trabalhar com a alavanca, então o que se observou: o deficiente mental vai mexendo a alavanca, comia, parava, passava um tempo, mexia na alavanca, reforço, ... Então dava o padrão. Com a criança normal (veja bem, outra vez o conceito de mundo interno), ela transformava a situação num bombardeiro aéreo. Ela era piloto e estava com uma metralhadora (bam-bam-bam). Então a gente via no espelho "bam-bam-bam", pausa, "bam-bam-bam", como se estivesse no meio de uma batalha infernal. Ela comia um docinho, guardava e continuava a luta. Quer dizer, na verdade, o que era reforçado por ela, o significado era matar. Na verdade, ela poderia até parar, mas depois de derrubar o indivíduo.

   Então, o que se verificou na verdade, não é que o princípio não pudesse se aplicar, mas o princípio tem que ser atualizado e assim por diante. Uma importante crítica que se faz a estas propostas, é a de que não se faz essa atualização. Como disse a aluna), não dá para ignorar a família, o contexto. Hoje em dia, nós podemos dizer que na área de aprendizagem, a modificação do comportamento tem muito a dizer. Mas na área de relacionamento humano, na área de proposta terapêutica, ela tem muito pouca coisa a dizer. (só os fanáticos discordam disto).

   Então por exemplo, em terapia infantil, hoje se você pegar um terapeuta comportamental lúcido, ele vai dizer assim: eu sei fazer orientação de pais, para isso estou preparado. Mas terapia com criança eu não sei fazer. E na verdade, já se nota um forte movimento entre terapeutas que trabalham com crianças. Para começo de conversa, a gente nem chama mais de terapia comportamental.

   Técnica significa para mim o seguinte: você tem um problema, pode ser uma criança que vai mal na escola, pode ser uma pessoa que tenha fobia. Você pode aplicar procedimentos para alterar o chupar o dedo, alterar a fobia e assim por diante. Isto não é fazer terapia. Isto é mudar uma resposta. E seria o análogo de você pegar uma criança que vai mal na escola e você pega essa criança e faz um trabalho tipo clínico (até dentro da escola - com aquela criança que vai mal, pode ser até que ela melhore a nota), mas se você não faz uma análise crítica do sistema escolar, do trabalho do professor, da escola, você não analisou o problema.

   Em 20 anos houve uma aplicação repetida de procedimentos (passou o 1o. xerox). KUNTEL pegou o No. 1 da revista JABA em 1968 e pegou o No. 1 da revista de 1987, 20 anos depois. (Hélio leu o xerox No. 1). Os próprios editores da revista aceitaram isso como representativo.

   Esse autor (KUNTEL) ao comparar o 1o. número da revista de 68 e o 1o. da revista de 87, mostra que não há uma evolução importante. Por acaso, a linha A é o 1o. e a B é o 2o. O que vocês podem esperar a respeito do futuro nessa direção? Não há muito o que esperar.

   Então, o que nós temos feito é o seguinte: se você disser assim: Oh! Que bom cientista sou eu, meu sonho é ser behaviorista metodológico, mas como eu não sou tão restrito e não quero ficar trabalhando com animais, quero trabalhar com humanos. Você pode fazer pesquisa e tentar publicar que representa a produção aplicada à revista que tem 20 anos e é representativa.

   Agora, se você quiser trabalhar fora desse esquema restrito, então você vai ter que criar na verdade uma proposta. O que na verdade nós estamos fazendo, é não abandonar a conceituação básica e nem abandonar alguns pressupostos básicos, como por exemplo a observação sistamática. Uma boa observação é uma qualidade, seja eu psicanalista, seja eu comportamentalista. Fala-se: o analista faz interpretação. Na verdade, o analista faz interpretação (quando ele é bom analista) a partir de observação. Não importa que seja observação de relatos verbais. O analista de categoria nunca vai ver o cliente e primeiro diz: - Conte-me seu primeiro sonho. Ele não vai fazer isso: vai ouvir, ele ouve um sonho, dois etc.... Ele pode levantar uma hipótese a respeito de um sonho, mas ele para fazer uma interpretação, acumula dados, ele observa longitudinalmente esse paciente para daí fazer uma interpretação. Na verdade, a interpretação de um analista num consultório, não mais é do que uma situação de não laboratório, com menos controle, o mesmo que faz um cientista, de observar sistematicamente um fenômeno para daí concluir.

   Interessantemente, um pesquisador básico que trabalhou com pombos como Skinner, FESTER, começou a comentar num artigo (para azar dele e nosso): "embora tivesse ocorrido as curvas com os pombos, apesar disso eu noto que os meus pombos têm características muito particulares". Quero dizer o seguinte: o jeito de pegar o pombo, de pô-lo na gaiola, e até admite ele, fez algumas adaptações no equipamento para atender ao "temperamento" dos pombos. Ele já percebe que até o pombo tem um nível pombal, a personalidade que precisa ser respeitada. E o autor comenta também porque na pesquisa você começa com 10 sujeitos e aí você apresenta o resultado: sujeitos utilizados = 6. Mas você não comecou com 10?. É, um morreu e 3 não se adaptaram ao procedimento. São os esquizofrênicos, os revoltados, os críticos no mundo das aves. Quer dizer, na verdade, nós tiramos esse daí e publicamos aqueles. Agora, esta prática é comum, e aí você obtém curvas e FESTER diz isso: "os meus animais tinham particularidades as quais eu devia estar atento para conduzir bem os meus experimentos".

   Se nós quisermos na verdade trabalhar no nível clínico de uma forma mais produtiva, nós temos que buscar em outras abordagens, algumas idéias. Não é abandonar o modelo de análise. Observar corretamente é uma prática comum para qualquer um. Dizem assim: vocês da terapia comportamental não vão à essência do fenômeno, vocês não vão na verdadeira causa. Pela própria posição nossa, isso seria incoerência porque só se você descobre as causas, é que você pode esclarecer o fenômeno. Então, se eu for eliminar o "chupar o dedo" sem analisar o que determina isso, é óbvio que haverá uma regressão do comportamento, haverá um reaparecimento do comportamento.

   Uma técnica poderosa pode o mudar o comportamento, mas não muda o indivíduo. Então, é necessário que você tenha claro em que nível você está trabalhando. Numa emergência você pode até ter que fazer um trabalho que eu chamo de "pronto-socorro" e usar uma técnica poderosa. Uma criança por exemplo, está perdendo o ano pela segunda vez, e se recusa a ir à escola, tem uma fobia por escola. Pode ser que você avaliando a situação, ache adequado usar um procedimento de feeding, ou alguém acompanha essa criança até a sala de aula e vai gradualmente se afastando da sala para que a criança vença essa fobia e passe a frequentar a aula. Mas isso é uma situação que eu chamo de tecnológica, possivelmente necessária, mas não é terapia. Resta esclarecer porque a criança de 7 ou 8 anos está com fobia escolar. Como é o vínculo dela com a mãe, com o pai, com a vida? tem uma infinidade de problemas aí a serem investigados que eu chamaria de processo de terapia. Você enquanto tecnológico é comportamentalista. Enquanto terapeuta você vira um analista, bota a criança no divã e vai analisar? Nada disso. Você usa o seu próprio referencial teórico, mas para chegar lá, você precisa ampliar.

   Vou dar um exemplo: uma colega fez um trabalho. Tem aqui o relato para vocês terem uma idéia da dificuldade clínica. É um menino de 5 anos, superinteligente que vocês vão notar pela história. Essas anotações (do relato) vão oferecer ao terapeuta, dados. O relato foi escrito enquanto a criança brincava com massinha. O terapeuta não sabia ainda o que estava ocorrendo com essa criança. (Hélio leu o relato - xerox No.2). Essa história (relato da história que a criança fez com massinha) continua por mais páginas.

   Bem, pôr em extinção o quê? Essa criança foi encaminhada e agora vou contar a história dela. Trata-se de um casal, o homem e a mulher (cobra). O homem (que está fugindo) é casado e tem um caso com essa mulher que é solteira e aparentemente se amam. O meu cliente é esse homem. É um relacionamento longo. Ambos são médicos e ela fica grávida 3 vezes e abortou. Na quarta, ela resolveu ter o filho. Ele entra em pânico e não aceita. (o filho é a criança de 5 anos). Eles continuam se relacionando e a mulher tem o filho. O pai se recusa a ver o filho e diz que não é dele. Não assume, não quer saber e nunca foi ver esse filho. Então, essa mãe cria sozinha a criança. Aí, a criança começa, induzida ou não pela mãe, a perguntar onde está o pai. Ela (mãe) vai dando respostas como: o pai mora lá, mas não pode vê-lo. No fundo, o pai dele é o avô (pai dela). Vai chegando a um ponto que ela não cosegue mais lidar com o questionamento do filho, porque na verdade é uma relação ambivalente. Por outro lado, ela quer que o filho continue questionando para cobrar o pai pois eles continuam se relacionando. Quando é que você vai assumir o filho?

   Então, leva a supôr que ela induz a criança a se preocupar com o pai. Mas por outro lado, como o pai não quer assumir essa criança, a criança está criando para ela um beco sem saída: quem é meu pai? (eles trabalham no mesmo hospital, e nem dá para esconder muito). Então vocês vejam agora, a elaboração, a ansiedade da criança no 1o. parágrafo. (ver no texto). Podemos fazer uma interpretação. É claro que se você analisar essa história sem esses dados e outros, a história fica incompreensível.

   Já que é difícil chegar na forma de filho e de homem, porque não chegar na forma de uma cobrinha (ele se transforma em cobra). Como cobra ele pode subir no navio, no banco, ele pode se disfarçar como corda. Interessantemente ele encontra um lugar para a mãe dele dentro do barco. É uma outra expectativa. E a cobrinha fica lá no cantinho da mãe dela.

   Aparentemente para o casal, o filho não sabe que eles continuam se relacionando, mas por alguma razão, na história que aparece, a cobra estava lá dentro do barco e a cobrinha vai subir lá e vê. Inicia aí a agressividade que vai aumentando.

   (Hélio leu até a palavra "tubarão ".)

   Eu queria que vocês comparassem os dois xerox e vissem mais ou menos o seguinte: com seria possível a gente com esta perspectiva da revista (1o. xerox) dar conta destas informações? Reduzir este relato em comportamento verbal é extremamente sofisticado para uma criança de cinco anos. Reflete um mundo interno intenso. Se eu for analisar isso como relato verbal, eu estaria analisando isso como R. Se eu entender isso como uma relação que a criança está fazendo com o mundo dela, interno e externo, ela sabe que o pai existe, e o que ela pensa a respeito do pai. Este relato vira comportamento.

   Através dessa terapia (agora orientação para os pais), a mãe aceita ir no terapeuta mas o pai não. Porque o pai não aceita essa criança? Vamos chegar agora na historia de Luiza, porque enquanto ele teve uma amante que abortou, ela tinha uma história escondida (cartas que ele não escrevia e nem respondia). No entanto, a partir do momento que ela optou por ter um filho, as cartas apareceram. Existia um filho concreto que para todas as pessoas da convivência deste casal, sabe-se de repente: ela é solteira e aparece grávida. Não dá mais para esconder. E mais do que isso, ela passa pelo filho, ela tem uma coisa concreta desse relacionamento. Então, ela ao mesmo tempo é na história ela (Luiza), e ao mesmo tempo o primo Basílio (eu agora me refiro ao homem.), porque ela é a pessoa que eu amo e ao mesmo tempo a pessoa que eu amo tem as cartas e pode mostrá-las para o público.

   Vamos ver o perfil desse indivíduo: extremamente perfeccionista, rígido, faz as coisas erradas como qualquer ser humano faz, mas quer manter uma aparência de que está tudo certo. Então, para ele, no momento que ela passa a ter o filho, está com a posse das cartas, ele fica escravo dela e ele também está definhando.

   Como não é uma história antiga, é mais moderna, da mesma maneira que ele não é a Luiza que pode ser morta (pelos valores da época), é homem e leva uma vantagem neste ponto de vista. Mas está definhando, não da masma forma que a Luiza e eu não acredito que ele vá morrer, mas na profissão parou-se a evolução, continuamente angustiado, deprimido, perdeu a impulsividade dele, perdeu a força de luta (ele tinha na profissão, uma participação política bastante intensa, liderava movimentos. Lia lúcido e consciente a respeito da categoria). Afastou-se de tudo isso porque agora se ele vai defender uma idéia, vai a uma assembléia, ele acha que podem falar (quem é você para falar se você tem um filho escondido? quem é você para falar e defender direitos se você tem um amante e você não assumiu?). Percebe? Exatamente a mesma história.

   Do ponto de vista do behaviorismo, dá para trabalhar com isso? Sim. Nós temos que trabalhar com fenômenos humanos, os princípios estão aí. Se eu vou dizer que ele está num esquema de ansiedade, de desamparo (usando a expressão de Sileman), eu explico tudo o que está acontecendo com ele. Porém, eu não posso trazer esse rapaz ou essa criança para uma situação de laboratório. Tem que passar por um processo de terapia.

   Neste ponto de vista, o que vai fazer a terapeuta com essa história? Porque essa criança não pode ser reduzida no seguinte aspecto: é uma criança que quer saber se o pai dela vai assumí-la ou não, e porquê. Isso você não resolve com um procedimento de reforçamento. Eu poderia fazer um procedimento para evitar perguntas embaraçosas. Toda vez que ele perguntasse: "- onde está o meu pai?" (é possível), ele parar de perguntar, você pune. Você pode usar técnicas progressivamente mais poderosas. É possível que você descubra uma que o leve a parar de perguntar, mas você não vai ter uma técnica nessa direção que faça com que ele pare de sentir e pensar. Então, neste sentido, aqui está em questão o problema do desenvolvimento afetivo.

   "Com que idade uma criança começa a ser capaz de fazer movimentos em pinça?, etc..." Infelizmente os comportamentalistas estão preocupados com isso. A psicologia é comportamental. Essa psicologia está trabalhando com o desenvolvimento dessa criança. Agora, por outro lado, ignorar a solicitação dessa mulher pressionando você, "termine com ela, ela que leve a vida dela e você a sua"... Outra vez existem vínculos afetivos muito fortes. Ele está ligado a ela por afeto, por medo e por proteção que ela dá. Isso foi analisado também, ela é uma pessoa mais forte que ele em múltiplos aspectos. Então, na verdade ela o protege em muitas coisas

   Tudo isto entra em operação quando se está fazendo uma abordagem clínica do problema e não há uma R que você possa obter em cima de um procedimento isolado, e então nos oferece conceitos. Esses conceitos são de aprendizagem. Exemplo: como uma pessoa aprende a fugir? Como é que ela discrimina? como é que uma pessoa pune? como levar uma pessoa a extinção? Extinção não como dar água para o rato, mas o conceito, o princípio. Então, o arsenal de recursos de aprendizagem que o comportamentalismo oferece nos dá material para criar e ir além.

   Agora, você pode ter um vínculo muito estreito com a proposta teórica e ficar buscando onde está água, onde está o reforço, ou você pode trabalhar mais criativamente, mais amplamente criando soluções que dê para a coisa um sentido mais amplo. E isso você não encontra em livro nenhum.

   Bem, você vai encontrar isso. Em 1o. lugar o profissional tem que ter um embasamento teórico forte, sólido, na sua área de escolha, não importa qual seja a área. No meu caso, que optei mais para a linha comportamental eu estudo mais comportamentalismo. O que não advoga a posição do ecletismo, porque o ecletismo na verdade, gera confusão de pressupostos, confusão de métodos e confusão teórica.

   Agora, o que eu acho útil é que, além de um estudo da sua abordagem, o profissional faça também discussões sistemáticas com outros colegas a respeito de seu trabalho. Porque na verdade, quando você está atuando, não é como no laboratório. Você tem um procedimento e vai ter que seguir esse procedimento x tempo até acabar a pesquisa. Não, numa atuação prática você tem desafios que são cotidianos. Então, você deve estar alerta e trocar idéias com profissionais da mesma área que mostrem para você quais são os seus viéses. Não ficar cada dia para um lado. Para que você tome consciência de onde está sua miopia, para se desviar dos caminhos falsos ou até preferências afetivas que você não conta, das necessidades do cliente.

   Uma terceira coisa que eu tenho achado muito útil, é você ter periodicamente uma interação com profissionais de outras áreas, seja com os que não sejam da psicologia ou que é mais comum, de outras abordagens psicológicas. Essas pessoas trazem para você preocupações que você tipicamente não tem. Às vezes você pega uma discussão com o analista e diz: mas você está analisando transferência? Ocorreu-me que este cliente pode estar tendo um vínculo muito forte, quer afetivo com, quer aversivo com. Por isso que a coisa não anda? Então, esse tipo de preocupação é que eu direi a um psicanalista. Quer dizer, um psicanalista por ter uma preocupação teórica e até técnica diferente da minha. Ele enxerga fenômenos humanos que estão presentes. Quer que eu seja psiquinalista, quer eu seja comportamentalista e vice-versa. Eu poderia dizer a um analista que observe outro cliente: será que não chegou a hora de você reduzir a ansiedade desse cliente e levar e parar de girar em círculo, fazer uma interpretação mais direta para ele? Isso não quer dizer que o analista neste momento se transforme num comportamentalista.

   Então, eu acho que essa interpretação é produtiva desde que você não perca o seu vínculo com a abordagem. Acho também, que o profissional deve se calibrar em termos de suas próprias necessidades afetivas. Está claro que todas as propostas teóricas refletem o contexto histórico, o sujeito que você pesquisou, o cliente, e reflete também as suas dificuldades pessoais. Então, quando vocês estudam uma teoria Skinneriana ou você estuda uma proposta Junguiana, ou Freudiana, dentro desta proposta vocês vão entender muita coisa da problemática da personalidade de cada um dos autôres. Temos que nos calibrarmos emocionalmente. Ou passando por supervisão ou por teoria.

   Para encerrar, só queria dizer que, em termos de aprendizagem, a comportamental tem muito a dizer, mas só com os conceitos de aprendizagem derivados do laboratório a gente não vai muito longe. É preciso que você tenha uma atividade crítica revendo e tomando conta da sua ideologia, do seu posicionamento político. E que você tenha também uma interação com outras influências para que seu trabalho seja criativo e voltado para as reais necessidades que você está trabalhando.

   Então, hoje em dia, o comportamentalismo não se resume mais numa pesquisa de laboratório e infelizmente, embora existam revistas como JABA que está mais voltada para uma linha de pesquisa de problemas mais simples, mais limitados, isso não quer dizer que o potencial da abordagem se restrinja a esse.

 

 

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